Recebi
do professor Dr. Nei Alberto Pies, artigo intitulado Qualidade e Educação. No
artigo, Nei Pies que também é ativista em Direitos Humanos discorre com
excelência sobre o ofício de educar.
Segundo
ele o maior prazer no processo e, ou, nas relações do ensino-aprendizagem está
na utilidade que a construção do conhecimento pode proporcionar. Confira na
íntegra o artigo que me foi cedido via correio eletrônico:
Qualidade
e Educação
“Viemos
ao mundo para dar nome às coisas:
dessa
forma nos tornamos senhores delas ou
servos
de quem as batizar antes de nós”.
(Lya
Luft)
“Qualidade
é um substantivo inerente ao ser humano e a seus afazeres. O ofício de educar,
como outros, pressupõem a qualidade, gerada na satisfação e na conquista de
aprendizagens protagonizadas por educadores e educandos. O prazer maior nas
relações de ensino-aprendizagem está na construção do conhecimento como algo
útil, agradável e capaz de desencadear alegria e realização. O educador é um
dos maiores interessados em qualidade na educação, pois esta sempre carrega
potenciais para sua satisfação (o fracasso dos educandos também representa o
seu fracasso).
Quem
ganha com a desqualificação da educação pública? Quem ganha quando os
professores e professoras não são tratados com a dignidade que merecem? Quem
goza de alguma vantagem quando os alunos de nossas escolas saem delas sem as
mínimas condições de ler e interpretar o mundo, para melhor inserir-se nele?
É
incrível: quando a sociedade se mostra disposta a debater qualidade na
educação, os professores/as são atacados e apontados responsáveis pelo
insucesso escolar. E o que é mais grave: as peculiaridades de seu ofício
começam a ser entendidas como privilégios e não como direitos. E professores
que lutam para ampliar ou manter seus direitos são duramente penalizados.
Por
acaso professores e alunos estão sendo consultados para a avaliação dos
processos educativos nos quais são os principais sujeitos? Para avaliarmos a
educação, precisamos legitimidade nos processos avaliativos, a partir de
acordos e convencimentos capazes de promover o envolvimento dos sujeitos nas
realidades avaliadas. Seres humanos não são passivos como os produtos e suas
ações e atitudes sempre remetem à sua liberdade.
Rubem
Alves, quando discute “Qualidade em educação”, lembra que “a educação, na
medida em que lida com a vida das pessoas e a vida do país, deve ser a área
mais rigorosamente testada e é preciso que seja excelente. Entretanto, é aquela
em que os testes são mais difíceis e as avaliações, vestibulares e provões
quase nada significam: nada garante que a qualidade, medida por critérios
acadêmicos numéricos, consiga passar os testes que a vida impõe”.
Alves
afirma que as avaliações escolares sempre são anunciadas com a intenção de
“consertar a máquina” (a estrutura dos sistemas de ensino). E logo responde:
“eu, ao contrário, acho que não há nada de errado com a máquina. Não há o que
consertar. Acontece que os alunos, mais precisamente os corpos dos alunos – tem
também seus mecanismos de “controle de qualidade”. Se eles não aprendem é
porque os seus corpos reprovam a máquina. Seus corpos vomitam o que a máquina
lhes enfia goela abaixo. O resultado do “examão” seria a prova disso”. E
pondera ainda que nosso corpo só aprende dois tipos de conteúdos: os que dão
prazer e os que levam ao objeto de prazer (aqueles com razões para serem aprendidos).
“A máquina funciona como deve. O problema é que a comida que ela serve é
imprópria para a inteligência”.
Faz
bom tempo que os educadores/as reclamam qualidade. Faz tempo que apontam
imprópria a “comida” que os governos lhes servem (precarização das condições de
trabalho, retirada de direitos e penalizações para quem luta). E isto fere suas
inteligências. Por isso pedem um favor: não chamem de inteligência o que se faz
na gestão da educação pública. É muito indigesto e está longe de gerar prazer.
E já seria ousadia demais!”
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