Mais
ou menos dentro do esperado, a ex-senadora Marina Silva não falou na
segunda-feira (21), durante a entrevista ao programa Roda Viva, da TV Cultura,
sobre propostas de programa de um eventual governo seu. Muito menos apresentou
soluções aos problemas brasileiros por ela apontados. Aliás, só o que se viu
foi uma Marina rancorosa, destilando veneno e atacando o governo Dilma.
Tudo
dentro do script combinado com o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB). Entre as estratégias traçadas pela
dupla Campos/Marina para enfrentar Dilma nas eleições do ano que vem, ficou
definido que a ex-senadora continuará na linha de frente, batendo na presidenta
e, se possível, levando-a a responder aos ataques.
Numa
reunião na semana passada, com Marina no diretório nacional do PSB, chegou-se à
conclusão de que Dilma "não tem estômago de avestruz" e que não
aceitará calada as críticas. A tática de Marina visa a ganhar espaço na
imprensa e, claro, alguns votos de eleitores descuidados.
Durante
a entrevista na TV estatal tucana, Marina falou também em “superar a velha
política”. Mas, enquanto ela fala em velha política – depois de um dia ter declarado
que não via diferenças entre Campos, Dilma e Aécio –, o PSB negocia apoio com o
governador Geraldo Alckmin (PSDB).
Dono
de uma coligação de 14 partidos, Campos aloja em sua administração os aliados
que o ajudaram na eleição de 2006 e na reeleição em 2010. Governa ao lado de
"velhos nomes" como o deputado federal Inocêncio Oliveira (ex-PL e
atual PR), que está no seu 10º mandato
de deputado federal (e foi condenado em 2006 pelo Tribunal Regional do Trabalho
do Maranhão por manter trabalhadores em condição análoga à de escravidão em sua
fazenda).
É
aliado também do ex-presidente da Câmara dos Deputados, Severino Cavalcanti,
que em 2005 cobrou propina para deixar o
empresário Sebastião Buani instalar seus restaurantes na Câmara dos Deputados.
Quando o escândalo veio à tona, o
deputado renunciou para não ser cassado.
O
jornal O Estado de São Paulo publicou uma reportagem último dia 13 sobre a
chegada de Eduardo Campos ao poder em Pernambuco. Segundo a reportagem, para
derrotar Mendonça Filho, à época no PFL, na disputa pelo governo do estado em
2006, o então candidato Campos aceitou dar a Inocêncio Oliveira duas
secretarias de governo negadas pelo adversário, à época vice-governador de
Jarbas Vasconcelos (PMDB).
Como
prêmio por ajudar a tirar Campos do isolamento no início da campanha, Inocêncio
pôde nomear um aliado na Agricultura e o primo Sebastião Oliveira, então
deputado estadual, para a pasta de Transportes. No atual governo de Campos, o
PR de Inocêncio Oliveira controla a Secretaria de Turismo, com o deputado
estadual licenciado Alberto Feitosa. No segundo escalão, o PR administra o
porto do Recife, com Rogério Leão.
O
PSD de Gilberto Kassab assumiu o Instituto de Recursos Humanos. O partido foi
criado com a ajuda de Campos. O PP de Severino Cavalcanti comanda a Secretaria
de Esportes, com a indicação da filha Ana Cavalcanti.
Já
o PTB, de Roberto Jefferson, comandado em Pernambuco pelo senador Armando
Monteiro, controlava até sexta-feira (18), quando devolveu os cargos, a
Secretaria de Trabalho, Qualificação e Empreendedorismo e o Detran local. O
leque de alianças garante controle absoluto da Assembleia.
Sem
esquecer que o novo partido da Marina, o PSB abrigou o ex-senador piauiense
Heráclito Fortes (ex-DEM e ex-PFL) e o ex-deputado federal Paulo Bornhausen
(ex-DEM e ex-PFL), filho do catarinense Jorge Bornhausen. Eduardo Campos,
inevitavelmente, vai ter um conflito com o que prega Marina e o que ele faz.
Ele condena a entrega de fatias de governo no plano federal, mas faz o mesmo em
Pernambuco, entregando poderes para as forças mais conservadoras.
Como
se vê, não há inocentes no caso Marina Silva e seu PSB. Só o que muda é a
conveniência política. Coisas da "velha política", a que a
ex-senadora não dá sinais claros de disposição de enfrentar, ficando apenas
(até quando?) na retórica.
Via
Rede Brasil Atual/Blog da Helena
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Ao comentar, você exerce seu papel de cidadão e contribui de forma efetiva na sua autodefinição enquanto ser pensante. Agradecemos a sua participação. Forte Abraço!!!