Reproduzimos
abaixo excelente análise do Douglas Belchior em seu blog sobre as ações
anunciadas e a ser tomada pela presidente Dilma Rousseff no que tange a
política de cotas para negros.
Com
o título “Dilma, racismo e a força das palavras”, Belchior analise as propostas
da presidenta durante a abertura, nesta terça-feira, 05, da III Conferência
Nacional de Promoção da Igualdade Racial.
Vamos ao Artigo
A
presidenta Dilma Rousseff abriu nesta terça feira (5/11) a 3ª Conferência
Nacional de Promoção da Igualdade Racial. O encontro reúne, até quinta-feira
(7), 1.400 representantes de todos os estados e do Distrito Federal para
debater as políticas de enfrentamento ao racismo e de promoção da igualdade. A
presidenta anunciou, entre outras iniciativas, o envio ao Congresso Nacional do
projeto de lei, em caráter de urgência constitucional, que destina 20% das
vagas em concursos públicos federais para negros: “Nós queremos, com essa
medida, iniciar a mudança na composição racial dos servidores da administração
pública federal, tornando-a representativa da composição da população
brasileira”.
A
presidenta foi interrompida diversas vezes pelas palmas do plenário e ao final
de seu discurso foi delirantemente ovacionada pelos mais de mil delegados da
Conferência. Nenhuma novidade, afinal a maioria dos representantes da sociedade
civil são partícipes ou simpatizantes de estruturas partidárias, sindicais ou
governamentais ligadas ao PT, PCdoB, partidos e governos aliados.
Bem
assessorada, Dilma escolheu as palavras certas para dizer e muito embora não
tenha anunciado nada de estruturalmente significativo para o combate ao racismo
ou à promoção de uma reparação de fato, apresentou uma pauta que segue o ritmo
das políticas compensatórias características do governo petista. Mas há de se
respeitar afinal, em uma sociedade marcadamente racista como a nossa, mesmo
políticas superficiais no tocante à igualdade racial provocam grande reação
conservadora, o que acaba por emprestar uma roupa mais “radical” à iniciativa.
Mais
que as propostas anunciadas, duas declarações da presidenta me chamaram a
atenção: quando disse que “A sociedade brasileira tem que arcar com as
consequências do longo período escravocrata” e quando disse que o governo
apoiará o Plano Juventude Viva no sentido de combater “o que vem sendo
classificado de genocídio da juventude negra.”
As
palavras tem poder, presidenta! Arcar com as consequências da escravidão requer
de seu governo – e dos futuros, posturas que nenhum outro teve coragem ou
interesse em promover. Um bom início de conversa tem relação com sua segunda
afirmação: reconhecer o genocídio da juventude negra como ação promovida pelo
estado brasileiro. E combatê-lo de fato. O que é bem diferente de dizer que os
assassinatos assim “vêm sendo classificado”. E você Dilma, como você enquanto
presidenta classifica o assassinato de centenas de jovens negros pelas polícias
e milícias em todo país?
Arcar
com as consequências da escravidão passa por reordenar as forças produtivas e
econômicas do país. Passa, por exemplo, por inverter a lógica da posse da terra
e garantir a titulação dos territórios indígenas e quilombolas. Passa por
efetivar a tão protelada reforma agrária ou, em outras palavras, acabar com a
força do agronegócio e investir em uma agricultura familiar e socialmente
comprometida.
E
poderíamos seguir: E quanto aos bancos e seus lucros exorbitantes? E quanto ao
setor empresarial privado e seu poder de mando? E quanto aos meios de
comunicação? E quanto às mega construtoras e às corporações internacionais? E
quanto à taxação das grandes fortunas? E quanto à qualidade da escola pública
brasileira, em todos os níveis, à aplicação da Lei 10639 e o acesso às
universidades de ponta? E quanto ao modelo de segurança pública?
Arcar
com as consequências da escravidão, presidenta, significa colocar xeque os
pilares de sustentação do modelo econômico vigente, tudo que o cerca e o
alimenta. Mas você está certa. A sociedade brasileira nos deve isso. Como você
pensa em começar quitar essa dívida?
A
grande responsabilidade das delegações e de seus grupos políticos nessa
conferência é fundamentalmente cobrar do estado a atenção e a importância que o
tema merece. Serão capazes de abstrair de seus compromissos políticos
partidários, cobrar e denunciar o “seu governo” e o Estado? É o que veremos!
Via
Negro Belchior
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