Mesmo
buscando aliança com o PSTU e o PCB, partidos sem representação no Congresso, e
propondo fazer um governo em que o PMDB seja oposição, o senador Randolfe
Rodrigues (Psol), do Amapá, acredita que pode virar presidente da República e
cumprir o mandato amparado no diálogo com a sociedade. Nascido há 41 anos na
cidade de Garanhuns (PE), terra natal de Lula, Randolfe é filho de sindicalista
do PT, foi deputado no Amapá por dois mandatos e, em 2005, deixou o partido
para fundar o Psol naquele estado, onde é adversário de José Sarney (PMDB).
Elegeu-se
senador em 2010 e agora tentará se colocar como a opção verdadeiramente
esquerdista para a sucessão de Dilma Rousseff, tendo como vice a ex-deputada
Luciana Genro, que perdeu para o colega a indicação (Luciana também é filha de
petista: do governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro).
Randolfe
falou ao O POVO sobre suas ideais presidenciais – e também sobre a
contrariedade que sua candidatura despertou entre correligionários que não o
consideram radical o bastante, como o ex-presidente do Psol cearense, Renato
Roseno, que disputou a indicação.
O
POVO - O que o senhor apresenta ao país que o diferencia dos outros candidatos?
Randolfe
Rodrigues - Nossa candidatura é a única que vai ofertar ao povo brasileiro a
chance, depois de 50 anos, de ver figuras como José Sarney e Paulo Maluf como
oposição. Nenhuma das outras três candidaturas (Dilma Rousseff, Aécio Neves e
Eduardo Campos) pode oferecer isso. Esses personagens serão oposição ao meu
governo. Quero que essa governabilidade seja substituída por outra.
O
POVO - E como seria essa outra governabilidade?
Randolfe
-Uma governabilidade com transparência, com diálogo com o povo brasileiro. Não
há mal em dialogar com pessoas da política. O mal que há é falar para a
sociedade um tipo de compromisso e por baixo dos panos privatizar a coisa
pública, lotear os cargos. Quero construir com a cidadania brasileira uma nova
governabilidade.
O
POVO - O senhor quer fazer aliança com PSTU e PCB, partidos sem representação
no Congresso, e deixar o PMDB na oposição. Como é que se governa assim? De que
jeito um presidente do Psol faria aprovar uma matéria no Congresso?
Randolfe
- Me permita devolver com outra pergunta: governar com o PMDB é governar? Não.
É negócio. Eu quero governar com a sociedade brasileira. Àqueles que querem um
governo com esses velhos personagens eu digo: não sou o candidato mais
adequado.
O
POVO - Então o governo do Psol seria de democracia direta, plebiscitária?
Randolfe
- Seria um governo com participação do povo. Os representantes precisam
dialogar com os representados. Não vou desrespeitar a Constituição. Vou
dialogar com os mecanismos de participação direta que estão previstos na
Constituição. É possível governar com a participação do povo mas também com
respeito ao parlamento. Não quero fazer um centímetro além do que está na
Constituição.
O
POVO - Quais seriam suas primeiras providências como presidente?
Randolfe
- A primeira providência a ser tomada seria uma reforma republicana. Não é
possível continuar com 39 ministérios. É preciso racionalizar a máquina
pública, para que seja capaz de responder às necessidades do povo. Pra que 39?
É pra atender ao fisiologismo. Não adianta ter ministério da Pesca, do
Desenvolvimento Agrário que não faz reforma agrária, da Agricultura.
A
ideia de governo nosso é ter um ministério que se chame “da Reforma Agrária e
Agricultura”, porque reforma agrária será carro-chefe do nosso governo. Quero
fazer o que João Goulart fez, desapropriar terras. O que o levou a ser deposto.
Junto com essa reforma, é necessário ter um choque na economia brasileira, que
inverta as prioridades: temos uma economia voltada para atender ao mercado
financeiro, por isso praticamos a maior taxa de juros do planeta. Como se faz
isso: recuperando a autonomia do Brasil sobre o Banco Central. Terceira medida:
com o dinheiro da taxa de juros, lançar um programa para erradicar em dois anos
o analfabetismo.
O
POVO - Sua escolha como candidato a presidente foi e continua sendo questionada
dentro do Psol. O Renato Roseno, ex-presidente do partido no Ceará, critica o
senhor por representar, segundo ele, uma “esquerda repetida”, que age como o
PT.
Randolfe
- O partido está unificado. Tivemos 52, 53% dos votos no congresso do partido,
e a Luciana teve 40%. Hoje ela é minha candidata a vice. Não existe outra
pré-candidatura. No lançamento da nossa, estavam presentes todas as lideranças
do partido.
O
POVO - No congresso do Psol, em dezembro, Roseno discursou contra o senhor
mencionando a eleição do seu candidato a prefeito de Macapá, Clécio Luís, em
2012, quando, segundo Roseno, o senhor fez aliança com o DEM e o PTB.
Randolfe
-Talvez tenha faltado uma informação melhor a ele. Muita gente foi muito
desinformada sobre aquilo. Não existiu aliança dessa natureza. Houve aliança,
claro, no primeiro turno, com o PPS. No segundo turno não houve essa aliança
com o DEM. O que houve foi que o candidato do DEM rompeu com o DEM e apoiou o
Clécio. No PTB houve manifestação de apoio, mas não há nenhuma composição
política na prefeitura. Houve desinformação em relação a isso. Promovida,
inclusive, pelo nosso adversário no segundo turno (o então prefeito e candidato
à releição Roberto Góes, do PDT).
Via
O Povo
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