A
presença de um órgão do governo central com status de ministério, como a
SEPPIR, foi e continua sendo fundamental para a consolidação da cidadania da
população negra e, consequentemente, para a efetivação da democracia no Brasil.
Vejo a SEPPIR como uma instância decisiva para o verdadeiro desenvolvimento do
país. Portanto, nesses 12 anos de vida, seria importante realçar a SEPPIR nessa
perspectiva: a de um instrumento que potencializa a possibilidade de um
desenvolvimento com sustentabilidade moral. O que ainda não temos aqui no
Brasil.
O
Dia 21 de março, data internacional celebrada pela ONU, reporta-se ao “Massacre de Shaperville”, denominação
dada ao morticínio de 69 negros pelas forças da repressão do apartheid da
África do Sul, no já distante ano de 1960. Trata-se de uma data que procura
valorizar a vida – bem que antecede a qualquer outra coisa. Aqui no Brasil, em
2012, cerca de 30 mil jovens foram mortos por homicídio. Destes, 76,5% eram
negros, aproximadamente 23 mil, o que dá uma média diária de 63 vidas ceifadas
absurdamente. Hoje, em 2015, essa média não caiu. Todos os prognósticos apontam
para um crescimento. Isso equivale a dizer: temos aqui todos os dias, praticamente,
um “Massacre de Shaperville”!
Na
comemoração dos 12 anos da SEPPIR eu preferiria comentar sobre políticas
públicas inovadoras – como as voltadas para a comunicação e geração de renda.
Poderia também falar da consolidação do que já foi arduamente conquistado até
aqui. Todavia, a persistirem os atuais níveis de violência, penso no impacto
que já se faz sentir nas curvas demográficas que medem a população negra. São
vidas de homens ainda jovens que não procriaram e que são ceifadas sem parar.
Portanto,
me inspiro em Shaperville para que pensemos – Movimento Negro e SEPPIR – numa
ação que reduza a níveis civilizados essa mortandade inaceitável. Exige-se aqui
uma política de Estado de cunho multidisciplinar e sistêmico; o que requer
diversas ações que têm uma capilaridade complexa, com fôlego suficiente para
efetivar o fim dessa doença que arruína o futuro. Além de diversos ministérios
que atuarão em conjunto para o sucesso dessa estratégia, será imprescindível a
participação dos estados, Ministério Público, meios de comunicação e da
sociedade. Enfim, há que se armar uma verdadeira guerra pela paz. Uma paz que
dê conta de pôr fim à morte banal do jovem negro brasileiro. É intolerável a
manutenção desse quadro.
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