Como
ainda tem muita gente que não entende (ou não quer entender) por que temos
cotas raciais e sociais no Brasil, preparei um rápido guia. Ele pode ser
aumentado à medida que novas dúvidas surjam. Qualquer pergunta extra, escreva
para o blog.
1.
Se você é preto, pardo ou indígena, tem direito às cotas; ponto. A
autodeclaração vale na hora da inscrição, mas algumas universidades podem
exigir comprovação após a matrícula para verificar se você atende aos
requisitos. Isto é feito principalmente para não prejudicar outros pretos,
pardos ou indígenas que de fato precisam das cotas.
2.
Se você é preto, pardo ou indígena e veio de escola privada, mas acha que, por
uma questão de reparação histórica, deve usar o sistema, tem direito.
3.
Se você é preto, pardo ou indígena e veio de escola privada, poderia abrir mão
das cotas (se desejar). Esta é, porém, uma decisão que compete apenas aos
pretos, pardos e indígenas, não aos brancos.
4.
Se você é preto, pardo ou indígena e, mesmo sendo pobre, acha que as cotas são
desnecessárias, é simples: não utilize as cotas. Mas estude melhor a História
do Brasil para não se tornar duplamente vítima do racismo, sem se dar conta.
5.
Se você é branco e veio de escola pública, tem direito às cotas.
6.
Se você é branco, mas longinquamente afrodescendente e estudou em escola
privada, não deveria se candidatar a cotas por uma questão moral e ética.
Fazer-se passar por negro para ser beneficiado por cotas é uma espécie de
corrupção e pode ser considerado estelionato.
7.
Se você é branco e veio de escola privada, não tem direito a cotas.
8.
As cotas foram feitas, obviamente, para atender a quem precisa delas. Como a
maioria dos pobres no Brasil é preta, parda ou indígena, bingo: a maioria deles
precisa de cotas porque não se pode comparar suas chances de ascender à
universidade com as de estudantes de classe média ou ricos que frequentaram
escola privada a vida toda. Isto se chama INCLUSÃO.
9.
Coloque na cabeça: as cotas não são uma vantagem: são a correção de uma
desvantagem histórica. Antes delas, apenas 2,2% de pardos e 1,8% de negros
tinham concluído universidade no Brasil; após as cotas, este número subiu para
11% de pardos e 8,8% de negros. Ainda é pouco, já que eles são 53% na
população. Em Medicina, por exemplo, somente 0,9% dos formandos no Estado de
São Paulo em 2014 eram negros.
10.
Quem gosta tanto de usar a palavra “meritocracia” deveria entender que ela só
se justifica entre pessoas com condições de vida semelhantes e não entre
desiguais. É moleza falar em meritocracia sendo branco, tendo papai rico e
estudando nos melhores colégios. É como apostar corrida saindo vários segundos
na frente do outro competidor.
11.
Ao contrário do que quem é contra as cotas costuma espalhar por aí, as notas
dos cotistas têm se mostrado iguais ou superiores às dos estudantes
não-cotistas em várias universidades, como a UFMG, e em algumas delas o índice
de evasão dos cotistas é menor que o dos não-cotistas.
12.
Nos EUA, existem cotas (políticas de ação afirmativa) desde os anos 1970. Isso
possibilitou que os negros avançassem na sociedade ao ponto de hoje o
presidente do País ser negro. No Brasil, menos de 10% dos deputados e senadores
são pretos e pardos.
13.
As cotas raciais têm prazo para acabar: assim que a proporção de pretos, pardos
ou indígenas em relação aos brancos chegar a números semelhantes aos da
sociedade em geral, as cotas acabam. Enquanto isso não acontecer, nada mais
justo que continuem.
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