Do
Afreaka
Por muito tempo, a medicina tradicional da África foi subestimada pela ciência ocidental. Hoje, séculos depois de descaso com as técnicas de cura africanas, pesquisadores do mundo todo começam a reconhecer a eficácia dos tratamentos desenvolvidos. Sobretudo com sistemas integrados de saúde, além de mais acessível e sustentável, a medicina tradicional tem-se provado preciosa na ajuda do combate a doenças como câncer, transtornos psiquiátricos, hipertensão arterial, vitiligo, cólera, doenças venéreas, epilepsia entre outros.
De
disciplina holística que envolve fitoterapia indígena e espiritualidade, a
solução da medicina tradicional, diferente da filosofia do ocidente, não busca
apenas a cura e a recuperação dos sintomas físicos, mas sim um equilíbrio entre
paciente, ambiente cultural e mundo energético, procurando a reinserção social
e psicológica do doente dentro de sua comunidade. As práticas e experiências da
medicina são sabedorias passadas de geração em geração, com formações sociais
que implicam em lições de procedimentos de diagnóstico, recursos medicinais,
preparação de receitas médicas, administração dos medicamentos e, sobretudo,
treinamento teórico, prático e espiritual adequado.
A
filosofia humanista empregada, muitas vezes associada à filosofia ubuntu, se
afasta do ganho material. Assim, os curandeiros geralmente fornecem o serviço
gratuitamente, sem exigir encargos do paciente, o que estimula um forte código
de ética na prestação de serviços de saúde de uma comunidade. O profissional é
assim, durante seu treinamento, preparado para ser algo além de responsável e
eficiente, mas também um bom ouvinte, orgulhoso de si mesmo, de sua tradição e
cultura.
Misturando
métodos biomédicos, dietas e jejuns, ervas terapêuticas, banhos, massagens e
pequenos procedimentos cirúrgicos, a sabedoria médica africana é a favorita de
seus habitantes. Hoje, de acordo com a Organização Mundial da Saúde, mais de
80% da população do continente confiam seus cuidados à medicina tradicional.
Ainda, suas práticas são reconhecidas por quase todos os países do continente,
sobretudo nos serviços de cuidados gerais, de parto, de saúde mental e de
doenças não agudas, que vêm mostrando excelentes resultados.
A
proposta das organizações adeptas à filosofia local, assim como a de alguns
governos, é de cada vez mais integrar as técnicas da medicina tradicional aos
sistemas de saúde nacional, unindo força das diferentes ideologias de medicina,
combinando às práticas locais seja com técnicas ocidentais ou com os know-hows
chineses e indianos. Para o pesquisador, Paulo Peter Mhame, a ação e
implantação da associação dos saberes podem chamar por um futuro brilhante. Ele
explica que uma vez que a medicina tradicional e seus praticantes forem formal
e explicitamente reconhecidos por todos os países seja por meio de políticas de
implementação ou por meio do desenvolvimento de um marco regulatório, um
sistema de qualificação e licenciamento, que respeitem tradições e costumes,
estará estabelecido.
Ainda,
segundo o especialista, assim será possível um modelo que permita a atualização
de conhecimentos e habilidades na pesquisa tradicional, protegendo a sabedoria
local e o acesso a recursos biológicos. A integração entre medicina tradicional
e ocidental possibilita o aumento da cobertura de cuidados de saúde, o
potencial econômico e a redução da pobreza, uma vez que a produção local é
incentivada e o acesso aos medicamentos é ampliado. As vantagens não param por
aí: custos reduzidos, falta de necessidade de exportação, cultivo local em
larga escala e criação de oportunidades de emprego, tanto na indústria quanto
na prática medicinal. Assim, as 6400 espécies de plantas medicinais utilizadas
na África e as sabedorias locais milenares, combinadas com bom aproveitamento,
formam um potencial que pode, com êxito, confrontar os desafios da saúde no continente.
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