A hipocrisia deslavada do “Movimento Brasil Livre”, por Ivan Valente


Um dos mais ativos e raivosos movimentos em defesa do impeachment de Dilma Rousseff, o Movimento Brasil Livre vive um enorme drama composto por denúncias graves de envolvimento com políticos suspeitos de corrupção e, também, pela abstenção cínica diante das maracutaias do governo Temer.

Surgido para “combater” a corrupção e com forte ideologia conservadora, o MBL liderou manifestações de rua pelo afastamento de Dilma. Portava-se como apartidário e defensor do Brasil.

No entanto, recentes revelações puseram às claras o comportamento indisfarçadamente incoerente do movimento. Há pouco tempo, um de seus líderes, Renan Santos, afirmou que o grupo recebeu dinheiro do PSDB, PMDB, DEM e Solidariedade, todos com membros envolvidos na Lava-Jato. Ao mesmo tempo, para uma associação que se pretende “apartidária”, a relação íntima com os partidos da oposição de direita parece revelar muito bem o contrário.

Ainda mais grave, reportagem de Carta Capital investigou a relação de membros do MBL com políticos de Vinhedo, cidade aonde nasceu o movimento. O antigo e o atual prefeito, Milton Serafim (PTB) e Jaime Cruz (PSDB), são tidos por aliados e aparecem ao lado de seus membros com alguma frequência. Sefarim teve que sair do cargo após condenação a 32 anos de prisão por cobrar propina em troca de facilitar licenças. O tucano que assumiu está envolvido no escândalo da máfia das merendas.

Outro fato curioso que chama atenção é o não posicionamento do tal movimento de combate à corrupção com a sucessão infindável de denúncias contra o governo Temer. Nada sobre os ministros que caíram. Nada sobre os áudios de Romero Jucá. Nada sobre a delação de Sérgio Machado.

Ora, que movimento é este que se limita ao combate parcelado da corrupção? Isso evidencia que a sua intenção verdadeira nada tinha a ver com a defesa da ética, mas foi motivada por um fim específico. Se utilizar de uma causa nobre e republicana, o combate aos desvios do erário público, de maneira instrumental para outro fim e sem levar a bandeira até as últimas consequências é de um cinismo vil e rasteiro.

O golpe em curso no Brasil envolve inúmeros agentes dentro e fora das instituições. Nas ruas, o que poderia parecer um movimento legítimo, perde a credibilidade com as reais intenções de seus líderes. Certamente, muitas pessoas honestas que queriam protestar contra a corrupção se indignam ao ver a corja que assumiu o planalto e, por outro lado, se decepcionam com a fragilidade moral de certos movimentos.

O sistema político brasileiro está falido. A Operação Lava Jato tem desnunado a relação promíscua entre grupos empresariais e os grandes partidos políticos. Todos os envolvidos devem pagar por seus crimes. Todos, sem exceção. A corrupção para ser enterrada precisa de uma verdadeira reforma política, que devolva para o povo a democracia raptada pelo dinheiro.


Agora uma coisa é certa: muitos defensores do golpe se movimentaram por uma hipocrisia deslavada!


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