A
Academia Carioca de Letras promoveu, na última segunda-feira (17), uma
homenagem a Carolina Maria de Jesus, ex-catadora, moradora de favela, que na
década de 60 ficou conhecida mundialmente ao lançar o livro “Quarto de
despejo”.
Revista Fórum- O que era para ser uma homenagem, no entanto, tomou contornos de embate por
conta da fala do aclamado professor de literatura Ivan Cavalcanti Proença, que
disse que a obra de Carolina não pode ser considerada literatura.
Em
sua fala, Proença argumenta que a obra de Carolina Maria de Jesus tinha mais
características de um diário e que, o diário que não é ficcional, não carrega
literatura. “É o relato natural e espontâneo de uma pessoa que não tinha
condições de existir por completo”, afirmou. Ele ainda completou: “Ouvi de muitos intelectuais paulistas: ‘Se
essa mulher escreve, qualquer um pode escrever'”.
Na
homenagem, estava presente a poeta negra Elisa Lucinda, que protestou.
“Desculpe, Ivan, mas é literatura sim! Eu não
gosto de música sertaneja, mas não posso dizer que não é música”, afirmou,
usando ainda trechos da obra de Carolina para comprovar a literatura presente
em suas palavras. “Diga ao povo
brasileiro que eu queria ser escritora, mas não tinha dinheiro para comprar um
editor” e “Quem inventou a fome são os que comem” foram os trechos citados.
Carolina
Maria de Jesus é tida como uma das maiores referências da literatura negra e
periférica do país. “Ela é a mais
necessária e visceral flor do lodo”, escreveu, sobre Carolina, Carlos
Drummond de Andrade. Quem também enxergava literatura na ex-catadora era
Clarice Lispector, que foi ao lançamento de seu livro. Para Clarice, Carolina
escrevia “de verdade”.
No
início deste mês a Unicamp anunciou que “Quarto
de despejo”, de Carolina Maria de Jesus, será leitura obrigatória no
vestibular de 2018.
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