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“Antes de estar nas Olímpiadas a capoeira tem que estar nas escolas”, diz mestre de capoeira

 

Mestre Coala é corda vermelha e faz parte do Abadá Capoeira – Foto: Reprodução Instagram.

Em entrevista exclusiva ao Notícia Preta, em comemoração ao Dia do Capoeirista comemorado nesta quinta-feira (03), o Mestre Coala, como Wladmir Vellasco é conhecido, contou sobre como é ser um capoeirista nos dias atuais. Ele também ressaltou a importância da “capoeira estar em todas as escolas”.

O doutor e professor de história Gabriel Siqueira que pesquisa e tem um livro sobre o tema, também falou com o NP, relembrando a lei de repressão “Dos vadios e capoeiras”, de 1890, que condenava e proibia a prática da capoeira.

Na exclusiva, Mestre Coala revelou uma fala emblemática de Mestre Camisa, a quem tem como referência. “Antes das pessoas quererem ver a capoeira numa olímpiada, a capoeira precisa estar em todas as escolas, porque é um instrumento educacional, social, desenvolvedor de vários saberes e as pessoas pouco conhecem”, disse o capoeirista.

Mestre Coala conhece países da África, América Central, América do Norte, Europa, Oriente Médio e quase todos os Estados do Brasil. Segundo ele, por conta da capoeira, que é considerada uma arte marcial, misturada com a cultura popular – unindo a dança e a música -, tombada como Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade.

Gabriel Siqueira, que é doutorando em Estado e Políticas Públicas, além de professor de história, também também é capoeirista. A partir de suas pesquisas e seu envolvimento com o universo da capoeira, escreveu o livro “Cativeiro Carioca: Memórias da Perseguição aos capoeiras nas ruas do Rio de Janeiro”, que trata da história da capoeira.

Gabriel conta que o código penal de 1831, o primeiro após a independência, enquadrava a capoeira no capítulo da vadiagem, onde o indivíduo capoeirista era identificado como aquele que não trabalhava. Este código penal durou todo o período monárquico, sendo substituído pelo Código Penal dos Estados Unidos do Brasil, já no período republicano.

Em 1890, antes mesmo da república assinar sua Constituição – que veio apenas em 1891 – o Código Penal ampliou o capítulo de vadios, que passou a se chamar “Dos vadios e capoeiras”. Gabriel entende que, a capoeira ‘foi perseguida durante 450 anos, dentre os 523 da história nacional”, o que refletiu na forma que ela passou a ser vista.

Segundo o Mestre Coala, de todos os países que já conheceu, o Brasil é o que mais parece ter discriminação com a sua própria cultura, e associa a capoeira a religiões de matrizes africanas, de maneira a praticar intolerância religiosa. O capoeirista enfatizou que apesar do preconceito, ele permanece firme.

Isso só me fortalece, pois eu tenho que mostrar para as pessoas que não é isso. Então eu tenho que aprender mais, estudar mais, treinar mais e isso me fortalece, pois ao me defrontar com isso, vou saber agir melhor”, diz o mestre de capoeira.

Para Coala, a capoeira não é só jogada com o corpo físico. Ela é jogada com a mente, e com a forma de lidar com os problemas que estão presentes no dia a dia.

As origens da Capoeira

Mestre Coala conta que a capoeira “tem origem africana, mas foi criada no Brasil”. Segundo ele, foi criada como forma de defesa na junção dos povos africanos e indígenas que estavam escravizados naquele momento, e por isso ele acredita que a história do Brasil está entrelaçada com a capoeira.

O livro de Gabriel conta que a capoeira carioca é “amefricana”. Com origem afro-diaspórica, a “capoeiragem carioca” nasce das conversas entre diferentes culturas africanas com contribuições ameríndias, segundo o professor.

O conceito de Lélia nos ajuda a entender a complexidade da formação da capoeira carioca. O Ngolo era a raiz da capoeira, mas como conhecemos a capoeira foi forjada no chão das grandes cidades negras do Brasil como o Rio de Janeiro”, diz Gabriel.

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Com informações do Notícia Preta.

Ensinando Beatriz a praticar capoeira

Beatriz praticando capoeira. (FOTO|Reprodução| YouTube).

Por Nicolau Neto, editor

Ensinando a Beatriz à prática da Capoeira, este símbolo cultural brasileiro que reúne arte-marcial, esporte, dança e música.

Tendo como referência temporal o século XVII, ela foi construída pelo povo escravizado da etnia banto, vindo a se espalhar por todo o território brasileiro, sendo considerada um dos maiores símbolos da cultura nacional e de resistência negra.

Beatriz tem 4 anos.

Querem ver como ela se saiu? Então, é só assistir ao vídeo abaixo:

         

A capoeira é feminina: mestras falam da prática como símbolo de luta para mulheres negras

 

"Estamos aqui para recontar essa história e resgatar as nossas falas" | Foto: Dindara Paz/Alma Preta Jornalismo.

No mês das mulheres, mestras de capoeira da Bahia buscam transformar os debates dentro da prática histórica que, ao longo do tempo, foi predominantemente ocupada por homens. Com o avanço das pautas de gênero e a inclusão de lideranças femininas, a história da capoeira tem sido reestruturada por mulheres negras que pretendem resgastar a identidade ancestral e também lutam pela valorização de grupos vulnerabilizados, como a população LGBTQIA+.

Apesar dos avanços, dados ainda apontam a urgência em discutir estratégias para combater a desigualdade de gênero na capoeira. No Brasil, estima-se que 35% dos praticantes de capoeira são mulheres, no entanto, a ocupação do público feminino na condição de mestra ainda é reduzido quando se considera a capoeira de angola, tipo mais tradicional.

Quando se busca pela representatividade das mulheres negras nesta tradição, poucas são as pesquisas e dados que demonstram a representatividade feminina, especialmente das lideranças negras, segundo aponta a capoeirista Viviane Santos, mais conhecida como contramestra Princesa.

Em busca de romper com o epistemicídio atribuído aos saberes ancestrais da população negra, mestras tem buscado criar movimentos de resgate identitário alinhado com a luta das mulheres e a importância do debate da diversidade na capoeira como forma de denunciar práticas machistas, sexistas e LGBTfóbicas.

"As mulheres não estão na capoeira só agora. Elas estão há muito tempo. Só que a presença das mulheres foi invisibilizada pela história. Então, estamos aqui para recontar essa história e resgatar as nossas falas", diz a contramestra Princesa, capoeirista há quase 30 anos e integrante do Movimento Karapaça e do coletivo Mestras e Contramestras.

A capoeirista e historiadora Mestra Janja destaca o papel fundamental das mulheres negras na história da capoeira e aponta a necessidade de reconhecer as assimetrias de gênero dentro do movimento, a exemplo dos privilégios das mulheres brancas em detrimento das mulheres negras.

"A partir do momento em que a capoeira se evidencia como um fenômeno cultural internacional, isso possibilitou que algumas famílias rompessem seus próprios preconceitos em deixar que suas filhas entrassem para a capoeira. Com isso, elas vão acabar ocupando muitos espaços porque, obviamente, tem mais privilégios assegurados do que as mulheres negras, ou seja, elas têm mais tempo para treinar, tem mais condição para se deslocar, não precisa inserir a capoeira como uma atividade quádrupla ou de quíntupla jornada", explica a historiadora.

Mestra Janja, que pratica há 40 anos,  atua do Departamento de Estudos de Gênero e Feminismo na Universidade Federal da Bahia (UFBA), também aponta que o reconhecimento dessas pautas tem ampliado o debate feminista dentro da capoeira.

"Esse espaço é desigual e evidencia muito as assimetrias intragênero e isso vem sendo provocado por muitas de nós como um dos maiores focos das nossas atenções", completa Mestra Janja.

'Respeita as Mina na Capoeira'

Por meio de oficinas e rodas de conversa, mestras, contramestras e capoeiristas da Bahia e do Brasil lançaram a campanha 'Respeita as Mina na Capoeira', como forma de realizar atividades e alertas contra práticas machistas, sexistas e LGBTfóbicas dentro do movimento.

Dentre as discussões, representantes e mestras veem a importância de colocar as mulheres negras como protagonistas na história da capoeira, tidas como fundamentais para o mantimento da prática.

"É um movimento de colocar essas mulheres à frente, reconhecendo seus papéis, seus saberes, e o que elas trazem enquanto desafios para a história recente da capoeira, entre elas a violência no interior da capoeira", diz Mestra Janja.

O lançamento da campanha fez parte do 1º Festival de Capoeira: Ancestralidade e Resistência, idealizado pelo Capoeira em Movimento Bahia, que teve como objetivo o fortalecimento da capoeira em suas diversas expressões e vertentes, dando visibilidade à prática e reconhecendo o papel de homens e mulheres que fazem parte da história do movimento, considerado patrimônio cultural brasileiro.

Para a contramestra Princesa, a expectativa é que a campanha possa servir de instrumento para o fortalecimento das lutas interseccionais que também perpassam pelo movimento.

"A gente está na expectativa que isso aqui gere outras ações, que ligue um alerta para a galera que ainda não entendeu que precisam se engajar. A capoeira são lutas diversas, porque a gente é resistência também", afirma a contramestra.

Mestra Janja também aponta quais os caminhos que ainda precisam ser feitos para que a capoeira possa ser uma aliada no combate às opressões contra as mulheres, sobretudo as mulheres negras.

"A capoeira não perde nada quando as mulheres assumem lugares de liderança e de poder, que, ao contrário, elas são extremamente responsáveis por todo esse processo de internacionalização da capoeira e o que a gente quer é falar por nós", finaliza.

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Com informações da Alma Preta.

Por que a capoeira é a “arte-mãe” da cultura brasileira e da identidade nacional

 

Negros Lutando, de August Earle (1824), é considerada a primeira referência iconográfica da prática no Brasil.

A capoeira ajudou a moldar o samba e até o futebol do país, defende pesquisador, que chama atenção também para as “dívidas não pagas” para com os povos responsáveis por trazer essa linguagem ao Brasil.

A pergunta que não quer calar é: quando será reconhecido o valor basilar da capoeira para a construção da identidade musical brasileira?

Duas das principais referências que o mundo tem do Brasil são a música e o futebol. Embora pouco se diga, a capoeira está na raiz de ambas. Esse caldeirão cultural fervilhante de ginga e sons espalha-se por todo o planeta, é visível nas ruas, nos shows, nos estádios, mas, mesmo no nosso país, não é completamente compreendido. É uma história complexa, perdida nos escaninhos da tortuosa memória brasileira que por séculos tentou sonegar a devida importância de suas origens básicas africanas ou indígenas, e os reflexos desse conflito identitário permanecem até os dias atuais.

A partir de 1532, milhões de africanos foram arrancados de suas nações e trazidos para o Brasil, dando início ao maior processo de migração forçada da história. Ao longo dos séculos, os escravizados deixaram impressas suas marcas na cultura brasileira. Uma das mais importantes e influentes dessas raízes foi a capoeira.

A origem da palavra é do tupi: ka’a (“mato”) e pûera (“que foi”). Embora seja controvertida a razão da utilização do termo, a tese mais aceita é de que a vegetação derrubada ao redor das fazendas favorecia a fuga dos escravos, pois, se tentassem fugir pela mata fechada, ficariam embrenhados no cipoal. Seja como for, as primeiras referências a uma forma de luta própria dos escravos remontam ao Quilombo de Palmares e vieram dos soldados portugueses (“Dragões”) que relataram, por volta de 1690, ser necessário “mais de um Dragão” para capturar um negro desarmado, pois estes defendiam-se com uma “estranha técnica de esquivas e pontapés”. Por isso o Quilombo de Palmares é apontado como um dos prováveis berços da capoeira, o que é questionável (há sérios estudos que apontam para Sergipe como matriz); mas sabe-se, com certeza, de sua origem no antigo ritual N’Golo, ou “Dança das Zebras”, praticada na África Austral, atual território de Angola, onde os jovens formavam rodas e disputavam um misto de luta e dança com base na observação das disputas das zebras machos pelas fêmeas, com coices e cabeçadas.

As primeiras imagens que se têm, porém, são completamente reveladoras. Em 1824, o inglês August Earle pintou Negros Lutando e, em 1835, o germânico Johann Moritz Rugendas registrou a cena definitiva no quadro Roda de Capoeira, no qual veem-se claramente os rudimentos da técnica da luta e o uso de instrumentos musicais acompanhados de palmas.

As rodas de capoeira eram praticadas com música não apenas por sua origem na antiga dança das zebras. Os donos de escravos permitiam que dançassem para evitar que ficassem deprimidos (banzo), e ali eles aproveitavam para treinar luta. Dentre os toques mais antigos de berimbau há um, por exemplo, chamado “cavalaria” que avisava da aproximação do feitor e outros vigilantes – nesse momento, as mulheres abriam suas saias como asas para impedir a visão do que ocorria e os capoeiristas passavam a dançarinos. Puxavam as mulheres para o centro da roda e seguiam em danças de umbigadas, escapando dos castigos por serem flagrados praticando técnicas de combate.

Foi provavelmente dessas rodas que nasceu o chamado “samba do Recôncavo baiano”. Das percussões e cantorias que acompanhavam a capoeira consolidou-se o principal tronco musical brasileiro, do qual derivaram o samba e o coco. Aliás, a música de capoeira, que os brancos incluíam no que chamavam genericamente de “batuques”, antecede o chorinho em 50 anos e o samba em quase um século.

Não à toa, Vinícius de Moraes cantava que “o samba nasceu lá na Bahia, e se hoje ele é branco na poesia, é negro demais no coração”. Foi ao ter contato com esse universo que ele e o violonista Baden Powell criaram a célebre série dos “afro-sambas”. Mas, muito antes, essa cultura já havia sido transposta para os morros do Rio de Janeiro, em um movimento conhecido como Pequena África. No início do século 19, era prática corrente encontros musicais nas casas das “tias” baianas Yalorixás. A mais conhecida foi Hilária de Almeida, a Tia Ciata, até hoje uma referência sobre o surgimento do maxixe, logo samba. Na casa dela gerou-se o primeiro samba registrado em disco, Pelo Telefone (1917), com autoria assumida por Ernesto dos Santos (Donga), sobre o que ainda restam controvérsias – cogita-se que tenha sido obra coletiva e de “roda”.

Ao largo desse debate autoral, fica evidente a matriz transposta da Bahia para a Pequena África no Rio de Janeiro e da Grande África para o Brasil ao longo de séculos.

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Por Henrique Mann, publicado originalmente na Revista Prosa Verso e Arte


A capoeira de Besouro, por Paulo César Pinheiro


Álbum Capoeira de Besouro (2010), de Paulo César Pinheiro (Ilustração:
Xilografara de Ciro Fernandes).

lustre compositor e poeta brasileiro, Paulo César Pinheiro apresenta de forma recorrente em suas composições a ligação do Brasil com a África. Em Capoeira de Besouro, CD de 2010, conta a história da capoeira em forma de música. O trabalho foi pensado originalmente para o musical Besouro Cordão-de-Ouro, sobre o maior capoeirista baiano, mítico personagem, também violonista e compositor de sambas de roda: Besouro Mangangá.

Publicado originalmente no Afreaka

Ninguém ouviu um soluçar de dor
No canto do Brasil.
Um lamento triste sempre ecoou
Desde que o índio guerreiro
Foi pro cativeiro e de lá cantou.


Negro entoou um canto de revolta pelos ares
No Quilombo dos Palmares, onde se refugiou.
Fora a luta dos inconfidentes
Pela quebra das correntes.
Nada adiantou.”

Canto das Três Raças, inesquecível na voz de Clara Nunes, é um dos inúmeros exemplos da criação de Paulo César Pinheiro, que traz a história do Brasil em versos que ecoam pelos ares e ficam registrados na memória. A história do povo brasileiro por meio dos ancestrais indígenas e dos negros africanos. Em Capoeira de Besouro, o personagem popular ganha voz mais uma vez, pois Paulinho (como o músico é chamado carinhosamente no meio artístico), já havia feito uma homenagem ao capoeirista santoamarense, no samba Lapinha de 1968, nos versos: “Adeus Bahia, zum-zum-zum/ Cordão de ouro/ Eu vou partir porque mataram meu besouro”.


A capoeira nasceu no Brasil, criada por negros bantos de Angola que escravizados encontraram nos gestuais de dança e luta uma forma de defesa. O nome vem do local onde os escravos das fazendas se reuniam para praticar o jogo que parece uma luta. No centro da roda dois pares se defrontam, enquanto ao redor são acompanhados por palmas, ao ritmo do berimbau e de cantigas. Na jinga, entre rasteiras e chutes, o capoeirista tem que mostrar agilidade e equilíbrio.

O compositor carioca recebeu no 26º Prêmio da Música Brasileira, de 2015, o prêmio de melhor canção, em sua parceria com Guinga, para Sedutora, interpretada por Mônica Salmaso. (Foto: Wikipédia)

Lançado pelo selo Quitanda, de Maria Bethânia, que assina a direção artística do disco, com produção de Luciana Rabello, Capoeira de Besouro traz em cada uma das 14 faixas um toque de capoeira, como o Toque de Amazonas, que abre o álbum, o Toque de Benguela e o Toque de Angola Dobrada, entre outros. Com capa e ilustrações no encarte em xilogravura de Ciro Fernandes, a riqueza desse material é complementada com textos de Mestre Camisa sobre os toques, que tem participação também tocando berimbau.

Em entrevistas o compositor carioca revela ter se aprofundado na história de Henrique Pereira, nome de Besouro, em pesquisas realizadas em Santo Amaro da Purificação, na Bahia, depois do personagem ter sido a ele revelado nos livros de Jorge Amado. O musical Besouro Cordão-de-Ouro, de 2006, de sua autoria, teve a direção de João das Neves e ganhou o Prêmio Shell de Teatro nas categorias melhor música e direção musical.

"Jogar capoeira", ou Danse de la Gueree, de Johann Moritz
Rugensdas, de 1835. (Foto: Wikipedia).
Segundo o Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira, Paulo César Pinheiro é “considerado um dos maiores poetas da canção popular do Brasil, reuniu, ao longo de sua carreira, uma volumosa obra gravada por inúmeros cantores, contando, em 2011, com cerca de 1.100 músicas gravadas, além das inéditas, totalizando mais de 2.000 músicas compostas”. E assim continua sendo, em ativa carreira de escritor e compositor, recebendo prêmios e homenagens. Salve o mestre e seus versos sempre atentos aos desmandos do mundo, como em Toque de São Bento de Angola:

Esse mundo não tem dono
E quem me ensinou sabia
Se tivesse dono o mundo
Nele o dono moraria
Como é mundo sem dono
Não aceito hierarquia
Eu não mando nesse mundo
Nem no meu vai ter chefia
É de Angola é de Angola é de Angola.”

Fundação Palmares lança nota sobre transformação da capoeira em esporte


A capoeira é mandinga, é manha,
é malícia, é tudo o que a boca come”.
– Mestre Pastinha

Na semana passada (16/02), em sua primeira reunião do ano de 2016, o Conselho Nacional de Esporte (CNE), presidido pelo ministro do Esporte, George Hilton, formalizou a resolução, aprovada nessa mesma instância, em 2011, que reconhece a capoeira como esporte.



A questão da regulamentação e esportização da capoeira é antiga e polêmica. Entidades que representam os capoeiristas e mestres de capoeira reagem ora com cautela, ora com firme oposição, haja visto que a regulamentação e profissionalização da capoeira pode representar a deslegitimação daqueles que foram responsáveis pela invenção, manutenção, transmissão e disseminação dos conhecimentos relativos à capoeiragem, em prol da figura do instrutor com formação em educação física. Tal ameaça foi inaugurada pelo Projeto de Lei da Câmara nº 31, de 2009.

Essa distorção reforçaria a desequilibrada relação entre os saberes, a qual reconhece e sustenta o conhecimento acadêmico como o portador da verdade e da precisão, descartando ou relegando os saberes tradicionais, populares e baseados na oralidade a condições inferiores de qualidade e técnica.

Para Mestre Suassuna, a transformação da capoeira em esporte de rendimento representaria um genocídio dos velhos capoeiristas e seus mestres. Em uma linha interpretativa mais moderada, os mestres Mão Branca e Antônio Dias, embora comemorem o reconhecimento, ponderam e são categóricos ao defender que a “capoeira é dos capoeiristas” e são eles que devem geri-la e definir seus rumos.

Dado ao fato da decisão ter sido oficializada recentemente, o Ministério do Esporte ainda não definiu qual entidade ficará responsável pela representação da capoeira. Praticantes e mestres temem que esta função seja atribuída ao Conselho Federal de Educação Física e suas regionais (Sistema Confef/Crefs), entidade, segundo os quais, não teria sensibilidade para lidar com uma prática tão multifacetada.

A capoeira como luta/arte marcial é apenas uma de suas expressões, a qual somam-se: a música, a dança e a cultura. A capoeira mescla resistência com ludicidade, força com leveza. Ademais, a capoeira, que surgiu como forma e espaço de sociabilidade para os negros vindos de África e aqui escravizados, é hoje elemento que remete seus praticantes a uma ancestralidade fundante e está consolidada como um dos símbolos mais relevantes do que chamamos brasilidade.

Na edição dos Diálogos Palmares, acontecida na cidade do Rio de Janeiro, em outubro de 2015, o ministro da Cultura, Juca Ferreira, afirmou que a capoeira “é, de fato, luta, mas ela é cultura, ela é lógica, é música, ela é sentimento de pertencimento [...] E uma coisa bonita da capoeira é que o bom capoeirista não é aquele que bate no outro, mas sim o que mostra que poderia bater, mas que, por civilidade, apenas encena a sua superioridade, enquanto o outro acolhe e tenta superar. Com isso, cria-se um processo positivo de disputa e de amabilidade dentro daquele processo.

A presidenta Cida Abreu, da Fundação Cultural Palmares (FCP), entidade responsável pela promoção e preservação da arte e da cultura afro-brasileira, posicionou-se em relação ao caso e garantiu que a “defesa da autonomia dos Mestres e a salvaguarda da capoeira fazem parte da missão desta Fundação, que está comprometida com essa importante manifestação cultural brasileira”.

“Uma proposta de profissionalização ou de conceituação da capoeira como modalidade esportiva põe em risco toda simbologia, referência e propriedade histórica desta matriz cultural ancestral.” – acrescentou a presidenta Cida.

Os defensores da medida, por seu turno, destacam que com isso as confederações e atletas da capoeira poderão ser beneficiados por programas e recursos disponibilizados pelo Ministério do Esporte, como o Bolsa Atleta.

Enquanto isso, Mestre Paulão Kikongo ressalta que essa iniciativa foi unilateral, autoritária e que envolve interesses que não os dos capoeiristas. O representante da Rede Nacional Ação pela Capoeira alerta ainda para o risco de transformar o capoeirista livre em um produto descartável para o mercado esportivo . (Acesse o abaixo-assinado organizado pela Rede)

Nós, da Fundação Cultural Palmares, acreditamos que classificar a capoeira como esporte de rendimento é aprisioná-la a um rótulo, que a desvirtua e descaracteriza tanto quanto os processos de folclorização.


Capoeira, patrimônio cultural

A complexidade e expressividade da capoeira levaram o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) a registrar a Roda de Capoeira e o Ofício dos Mestres de Capoeira como Patrimônio Cultural Imaterial Brasileiro, em 2008, estando inscritos, no Livro de Registro das Formas de Expressão e no Livro de Registro dos Saberes, respectivamente.

Seis anos depois, a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) conferiu à Roda de Capoeira o título de Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade. Para Jurema Machado, presidenta do IPHAN, o reconhecimento internacional serve, sobretudo, para colocar a todas as instâncias de governo do Brasil a “necessidade de assumir compromissos para com a salvaguarda desse bem, desde ações de promoção, valorização dos mestres, a preservação das características identitárias da capoeira, a formação de redes de cooperação, de transmissão desse conhecimento”.

Capoeira é esporte, decide o Conselho Nacional do Esporte


Grupo "CultuArte" em roda de capoeira na EEEP Wellington Belém de Figueiredo, em Nova Olinda. Foto: Arquivo do Blog.

Chegou ao fim uma discussão que perdurava há tempos: capoeira é esporte. A decisão foi tomada pelo Conselho Nacional do Esporte (CNE), órgão consultivo do Ministério do Esporte. Como havia o entendimento de que capoeira é uma dança, a modalidade não podia ser beneficiadas por programas do Ministério do Esporte, como o Bolsa Atleta.

A capoeira é esporte, tem competições, são atividades importantes para o condicionamento físico. Crianças, adultos e idosos praticam a mesma para diminuir a obesidade e, principalmente, são atividades que têm federações e confederação. Já tinha aprovação do Conselho, mas ainda não havia a publicação do Ministério do Esporte de uma resolução a esse respeito”, comemorou Jorge Steinhilber, presidente do Conselho Federal de Educação Física (CFEF).

A decisão que beneficia a capoeira também afeta outras artes marciais. A partir do momento que o Ministério do Esporte publicar resolução admitindo-as como modalidades esportivas, a pasta pode repassar recursos para confederações e atletas desses esportes. Atualmente, a capoeira não é incluída no Bolsa Atleta.



Conheça cinco curiosidades sobre a Roda de Capoeira


A página da Fundação Cultural Palmares, na rede social facebook publicou na tarde desta terça-feira, 07, cinco curiosidades sobre a Roda de Capoeira.  

Grupo CultuArte, de Altaneira, em roda de capoeira na EEEP
Wellington Belém de Figueiredo por ocasião
do dia da Consciência Negra. Foto: Yane Moura
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No dia 26 de novembro de 2014  a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) reconheceu a roda de capoeira, prática cultural afro-brasileira como Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade. O reconhecimento é dado a expressões e tradições culturais que são passadas de geração pelo mundo e foi concedido após uma votação na sede desta entidade em Paris.

Essa prática mistura música com arte marcial e tem origem no século XVII com povos escravizados no Brasil em busca de socialização e defesa contra a violência praticada na época.

Abaixo segue as cinco curiosidades

1) O gol de bicicleta utilizado no futebol teve influência dos movimentos da Capoeira.

2) Havia prisão e trabalho forçado para quem fosse pego praticando capoeira na época da proibição, no Brasil República.

3) O uso de uma argolinha de ouro na orelha era tido como sinal de força e valentia dos negros.

4) Nas rodas os capoeiristas jogavam sem manchar o branco de suas vestes e sem deixar cair o chapéu. Era considerado um bom jogador aquele que conseguisse sair da roda com o terno impecavelmente limpo.

5) Milhares de capoeiristas foram para a Guerra do Paraguai, pois havia sido prometida a liberdade no final do conflito àqueles que participassem da batalha.

Unesco reconhece roda de capoeira como Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade


A Roda de Capoeira, prática cultural afro-brasileira, ganhou o título de Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) nesta quarta-feira (26/11). O reconhecimento é dado a expressões e tradições culturais que são passadas de geração pelo mundo e foi concedido após uma votação na sede da Unesco em Paris.

Grupo CultuArte, de Altaneira, em roda de capoeira na EEEP
Wellington Belém de Figueiredo por ocasião do dia da
Consciência Negra. Foto: Yane Moura.
A Roda de Capoeira, ou simplesmente capoeira, mistura música com arte marcial e tem origem no século XVII com os escravos no Brasil em busca de socialização e defesa contra a violência praticada na época.

Para a ministra interina da Cultura, Ana Cristina Wanzeler, o título é importante para a valorização e a difusão da capoeira. “O reconhecimento da Roda de Capoeira pela Unesco é uma conquista muito relevante para a cultura brasileira. A capoeira tem raízes africanas que devem ser cada vez mais valorizadas por nós. Agora, é um patrimônio a ser mais conhecido e praticado em todo o mundo”, afirmou em nota.

A votação foi acompanhada pela presidente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), Jurema Machado, diplomatas e mestres de capoeira, que inclusive fizeram uma apresentação na ocasião.

Outras práticas brasileiras também são reconhecidas como Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade, como o frevo, o Círio de Nazaré, o Samba de Roda do Recôncavo Baiano e a pintura corporal indígena Kusiwa.


Via Correio Brasiliense