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Conceição Evaristo é a nova integrante da Academia Mineira de Letras

 

(FOTO | Aline Macedo | Divulgação).

A escritora mineira Conceição Evaristo acaba de ser anunciada a nova imortal da Academia Mineira de Letras (AML). Dos 34 votantes, 30 fecharam com o nome da criadora do conceito de "escrevivência", que em 2023 conquistou o Troféu Juca Pato, outorgado pela União Brasileira de Escritores, como Intelectual do Ano. Foi a primeira vez que a distinção foi concedida a uma mulher negra. Conceição recebeu a honraria pela publicação de "Canção para ninar menino grande" (Ed. Pallas, 2022), em que narra as contradições e complexidades da masculinidade negra e os efeitos delas sobre as mulheres negras.

Conceição Evaristo vence troféu Juca Pato 2023 como intelectual do ano

 

Em 2019, escritora foi reconhecida como personalidade literária do ano pelo Prêmio Jabuti - Créditos da foto: Divulgação.


A escritora mineira Conceição Evaristo venceu o troféu Juca Pato 2023 como intelectual do ano. O prêmio, organizado pela União Brasileira de Escritores, é concedido a personalidades que tenham publicado livro no Brasil no ano anterior e se destacado em qualquer área do conhecimento.

Conceição Evaristo alcança a marca de 500 mil livros vendidos

 

Conceição Evaristo. (FOTO | Divulgação).

A escritora Conceição Evaristo alcançou a marca de 500 mil livros vendidos por apenas uma editora esse ano. As cópias vendidas foram dos seus quatro livros lançados pela Pallas Editora: “Olhos d’água”, “Becos da Memória”, “Ponciá Vicêncio”, e o recém lançado “Canção para ninar menino grande”.

Esse levantamento, feito pelo Painel de Letras, da Folha de São Paulo, registra mais uma grande conquista de Conceição. A linguista e escritora brasileira tem suas obras estudadas não só em vestibulares, como também nas universidades brasileiras e do exterior, sendo objetos de artigos e dissertações acadêmicas. Conceição Evaristo tem publicações na Alemanha, Inglaterra, Estados Unidos e França.

Em 2015, a literata foi finalista do prêmio Jabuti e homenageada, em 2018, com o Prêmio de Literatura do Governo de Minas Gerais pelo conjunto de sua obra, sendo reconhecida como uma das mais importantes e influentes escritoras brasileiras da atualidade. As obras da mineira incluem os gêneros da poesia, romance, conto e ensaio, sempre falando da perspectiva afrocentrada, envolvendo temas como a denúncia da condição social dos afrodescendentes, feminilidade, relações de gênero e críticas ao machismo, sexismo e racismo.

Ainda em 2018, Conceição Evaristo se candidatou para uma vaga na Academia Brasileira de Letras, recebendo apenas um voto, enquanto o cineasta Cacá Diegues foi eleito com vinte e dois votos. Conceição queria desafiar a falta de representatividade negra e feminina na ABL. “Com todo respeito que eu tenho à Academia, mas ela tem que tomar cuidado, porque senão perde o bonde da história.”, comenta a escritora em entrevista para o Roda Viva.

Quando perguntada sobre uma possível recandidatura, a escritora preferiu incentivar outros intelectuais, “acho que, como da primeira vez, a Academia não aceitaria a minha candidatura. Eu prefiro pensar que outras mulheres negras, outros homens negros, sujeitos indígenas, outras representações literárias deveriam se candidatar. O que eu tinha de fazer eu já fiz”.

De fato, Conceição fez muito não só pela literatura brasileira, como pela comunidade afro-brasileira. “O que nós conquistamos não foi porque a sociedade abriu a porta, mas porque forçamos a passagem”, disse a autora.

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Com informações do Notícia Preta.

Conceição Evaristo assume cátedra de arte, cultura e ciência da USP

 

(FOTO  | Divulgação).

A escritora Conceição Evaristo é a nova titular da cátedra Olavo Setúbal, de arte, cultura e ciência, da USP.

A poeta, contista, romancista e teórica da literatura assumirá em junho suas atividades como a nova titular da Cátedra Olavo Setúbal de Arte, Cultura e Ciência da USP.

Homenageada como Personalidade Literária do Ano pelo Prêmio Jabuti de 2019 e vencedora do Prêmio Jabuti de 2015, além de ser contemplada, em 2018, com o Prêmio de Literatura do Governo de Minas Gerais pelo conjunto de sua obra, a escritora será o sétimo nome a assumir a gestão da cátedra, que foi criada em 2015 pelo Instituto de Estudos Avançados (IEA) da USP e pelo Instituto Itaú Cultural com o objetivo de lançar um novo e mais profundo olhar para a arte, a cultura e a ciência.

Conceição é autora de contos, poemas e romances, parte deles traduzida para o inglês e o francês, além do árabe e do espanhol. Atualmente, está sendo produzida a tradução de Becos da Memória para a língua espanhola, com possibilidades ainda de tradução para o italiano, como ela mesma antecipa.

Seu foco está nas mulheres negras, mas também  são retratos das desigualdades em nosso país, denunciando as opressões raciais e de gênero, mas também recuperando a ancestralidade negra.

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Com informações do Instituto Búzios.

Conceição Evaristo participará de live nesta terça-feira (14)


Conceição Evaristo participará de live nesta terça-feira (14). (FOTO/ Reprodução/ Instagram).


A escritora mineira Conceição Evaristo participará nesta terça-feira, 14, a partir das 19h00 de live. A ação corre em face restrições impostas pela pandemia do novo coronavírus, a Covid – 19.

Olhos d’água - obra de Conceição Evaristo




Conceição Evaristo é, sem dúvida, uma das vozes negras mais eloquentes, principalmente no campo da literatura e mais decididamente da literatura afro-brasileira da contemporaneidade.

Conceição Evaristo impulsiona para toda uma geração de jovens escritores negros que, como ela, buscam transformar a sociedade


Conceição Evaristo transforma sua trajetória em referência e impulso para toda uma geração de jovens escritores negros que, como ela, buscam transformar a sociedade. (FOTO/Reprodução/Revista Trip).

Aos 72 anos, Conceição Evaristo está escrevendo um rap. A ideia surgiu quando a escritora foi convidada para assinar o prefácio de um livro que traz textos de jovens autoras integrantes do Slam das Minas, um coletivo que recita poesias que tratam especialmente sobre racismo, machismo e desigualdade social. “Quando ficar pronto, quero dar para elas declamarem”, conta, sobre “O rap da experiência”, como ela nomeou. “Ao mesmo tempo que temos uma juventude negra que está sendo dizimada, temos uma outra que tem um papel muito importante na mudança da sociedade brasileira.”

É preciso questionar as regras que me fizeram ser reconhecida apenas aos 71 anos, diz Conceição Evaristo


'A temática negra não é muito bem aceita', diz escritora, cujo primeiro livro
levou 20 anos para ser publicado. (FOTO/Joyce Fonseca/ Reprodução/BBC).

A escritora Conceição Evaristo mal se lembra de ter referências masculinas ao seu redor em seus anos de formação, crescendo cercada de mulheres negras que trabalhavam como cozinheiras, lavadeiras e empregadas, profissões tão humildes como a casa pobre em que vivia com a mãe e os nove irmãos e irmãs na favela do Pendura Saia, em Belo Horizonte.

“Cada vez mais o racismo brasileiro sai do armário”, diz Conceição Evaristo”


A Escritora Conceição Evaristo (FOTO/Reprodução/RFI).
Ela é uma das grandes vozes da literatura afro-brasileira contemporânea. Romancista e poeta, Conceição Evaristo lança em Paris Poèmes de la mémoire et autres mouvements (Poemas de memória e outros movimentos, em tradução livre) e conversou com a RFI sobre racismo e a condição da mulher negra na sociedade.

Conceição Evaristo na Academia Brasileira de Letras: um passo para descolonizar o pensamento


A Escritora Conceição Evaristo. (Foto: Reprodução/El País).

Imagino um encontro de Carolina Maria de Jesus e Conceição Evaristo. Não nos anos de 1960, mas no agora, em meio ao burburinho em torno da candidatura da autora de Olhos d’ água (Prêmio Jabuti 2015), à cadeira número 7 da Academia Brasileira de Letras (ABL), cujo resultado será conhecido nesta quinta-feira (30). A autora de Quarto de despejo, é bem provável, se rejubilaria na conquista de Conceição, que transcende o trabalho individual e faz as vezes de caminhada de muitas outras Conceições e Carolinas. A expectativa é que Conceição Evaristo, se eleita for, viva um feito histórico para a literatura brasileira e de forma mais ampla para mulheres negras, cujo lugar da escrita não foi dado como natural, uma vez que jamais está dissociado do poder e, em uma sociedade como a brasileira, a recusa branca à concessão de privilégios é uma pauta permanente. Mas voltemos a cena. Conceição chega à ABL acompanhada por Maria Firmina dos Reis, autora do precursor Úrsula (1859), de Ruth Guimarães, que publica Água funda quase cem anos depois, em 1946, e, como nas narrativas do afrofuturismo, em que passado e presente se combinam em torno de um futuro mais viável, por mais dezenas de jovens escritoras afrodescendentes, que produzem no século XXI narrativas a um passo de descolonizar o nosso pensamento, a começar pela escrita.

Em todo o país, os últimos anos assistiram o surgimento de trabalhos que procuram dar visibilidade à autoria de mulheres negras, resultado de um mundo em que as minorias, percentualmente a maioria no país, reivindicam reparações a direitos históricos, de uma universidade brasileira em que mais negros puderam ter acesso a partir de 2002, e de leitores que desejam se ver finalmente representados nas narrativas. Não me refiro apenas ao trabalho de pesquisa acadêmica que, driblando o racismo institucional, aponta para o crescente interesse pelo espólio de Carolina Maria de Jesus, redescobre a poetisa simbolista Gilka Machado (branca nas imagens de época tal e qual o primeiro presidente da ABL, Machado de Assis, também embranquecido pela história), e faz uma releitura da crítica e da historiografia literária. Editoras de pequeno porte, batalhas nas periferias (e não só nelas!) como os slams, eventos literários, projetos de inserção de escritoras negras, são algumas ações que desenham o panorama de refração do efeito produzido por autoras que furaram o cerco e se estabeleceram no campo literário brasileiro como a mineira Conceição Evaristo, com sete obras publicadas. Em meio a dezenas de iniciativas, o Escritoras Negras da Bahia é um projeto que me chama atenção, não apenas pelo rastreamento de escritoras negras no estado brasileiro onde o Brasil começou, mas sobretudo porque incentiva que as próprias escritoras negras se anunciem neste censo. Em um ano de projeto já foram mapeadas cerca de 50 autoras e o público pode conhecer os perfis de pelo menos 30 delas pelo website da iniciativa, clicando nos nomes das escritoras ou explorando o mapa da Bahia. Para se ter a dimensão do que esse número representa, podemos pensar em outra iniciativa importante, o Panorama editorial da literatura afro-brasileira através dos gêneros romance e conto, dossiê elaborado por Luiz Henrique Silva de Oliveira e Fabiane Cristine Rodrigues. Nele, foram contabilizados 29 autores, entre eles apenas nove mulheres, publicados entre 1859 e 2016, totalizando 61 romances de autoria afro-brasileira. Mas também podemos apelar para uma situação concreta e até individual, parafraseando a provocação que fomenta o projeto baiano: quantas escritoras negras contemporâneas, você, leitor, conhece? Se adaptarmos a pergunta para o contexto baiano, estaremos falando do mesmo local de onde saíram nomes amplamente conhecidos como Castro Alves e Jorge Amado. Como justificar então que não se conheça o trabalho de escritoras negras do estado mais negro do país?

A coordenadora do projeto, jornalista e doutoranda em Literatura pela Universidade de Brasília (UnB), Calila das Mercês, define sua atuação, bem como da equipe que viajou pela Bahia, ministrando oficinas para estabelecer contato com as escritoras de diversos gêneros, tanto escritos quanto orais, como uma espécie de curadoria, sem intenção de eleger bons e maus textos, de dizer quem pode ou não carregar a alcunha de escritora. À equipe cabe o papel de incentivar essas artistas da palavra a compartilharem seus trabalhos, a se sentiram escritoras, feito ainda raro para muitas delas. O grupo, que conta ainda com Kênia Freitas, pesquisadora de cinema negro e afrofuturismo, e Raquel Galvão, doutoranda em Literatura pela Universidade de Campinas (Unicamp), começou as visitas pelo extremo sul da Bahia, não à toa, porque é lá que começam as narrativas sobre o descobrimento. Caravelas, uma das primeiras cidades do território brasileiro, entre outras dos 417 municípios baianos, foi visitada pelo projeto em busca de diálogo com mulheres leitoras e escritoras, cuja ancestralidade é centenas de anos anterior aos movimentos feministas. Em seu primeiro ano, o projeto recebeu apoio do Fundo de Amparo à Cultura do Estado da Bahia, e agora deseja outros voos, como a publicação independente de textos de algumas das autoras mapeadas, porém com trabalhos ainda inéditos ou publicadas por selos de pouca visibilidade.

A jornalista e curadora de eventos literários Jéssica Balbino coordena a partir de São Paulo um trabalho similar, de auto mapeamento autoral, porém voltado para a autoria de mulheres periféricas. Apesar do recorte específico, o projeto Margens também nos ajuda a enxergar a inserção de mulheres negras no campo da escrita em praticamente todas as regiões do país. Outro aspecto a ser notado é que as duas iniciativas se desenrolam em plataformas digitais, de modo a tornar possível a circulação dos nomes dessas autoras, bem como alguns de seus textos, pondo fim a “justificativa” de que não se lê autoras negras porque não são conhecidas ou não se sabe onde elas estão. A professora da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Fernanda Felisberto da Silva, que realiza ampla pesquisa sobre a presença negra no mercado editorial brasileiro, o que inclui autoras nacionais e estrangeiras traduzidas, chama atenção para o fato do mercado não estar alheio às discussões de raça no país, ao mesmo tempo em que o acolhimento em relação à autoria feminina negra ainda precisa avançar, porque a maior parte dessa autoria continua sendo publicada por editoras de médio e pequeno portes, esbarrando muitas vezes no problema de distribuição dos livros. Diante das dificuldades de infiltração, muitas autoras optam pela estratégia de publicação em coletâneas, equacionando custos, para ver seus textos circularem. Traduzida para o inglês, o francês e o espanhol Conceição Evaristo, por exemplo, é publicada pelas editoras Malê e Pallas, especializada em cultura afro-brasileira. Para Fernanda, a eleição de Conceição abre novos horizontes, em que a autoria negra passa a compor o imaginário simbólico e literário nacional. Mas como será o depois, na prática, é difícil prever.

Até aqui podemos aferir que a opção, seja na obra de comprar ou ler, mais do que nunca, é política e ideológica, e jamais circunstancial. Do mesmo modo que levar autoras negras para a sala de aula é, como sempre foi, uma escolha. No Distrito Federal desde 2014, o projeto Mulheres Inspiradoras leva para escolas públicas de Brasília e seu entorno as experiências de autoras que precisam furar o cerco social, editorial e institucional para serem lidas. A lista de livros não é formada exclusivamente por autoria negra, porém inclui livros poucos previsíveis para um ambiente escolar pensado como branco e mantém Carolina Maria de Jesus como um de seus nomes obrigatórios. Além dela, os alunos do 8º e 9º anos do Ensino Fundamental e do Ensino Médio são incentivados a ler as obras das escritoras negras Cristiane Sobral, Meimei Bastos, a ruandesa Scholastique Mukasonga além de Conceição Evaristo e da autora indígena Eliane Potiguara.

Se é consenso não conseguirmos prever o passo após a chegada de Conceição à Academia, também há concordância de que qualquer efeito positivo, seja para o mercado editorial, tornando-o mais empático com a autoria feminina negra, ou para que mais mulheres negras escrevam, não é transitório. A autoria negra não espera ser celebrada apenas em edições temáticas de feiras literárias, muito menos disputa cota quando se é maioria no cerne da questão. Espera-se muito mais que isso. Porque Conceição e tantas escritoras negras não são feitas de matéria passageira, mas de percurso espinhoso, que inclui problemas estruturais e sistêmicos, racismo institucional em meio a resistência, mobilizações e, no caso da postulante à nova vaga entre os imortais, também de trabalho crítico e literário ao mesmo tempo em que denuncia os descalabros sociais da população negra. A ABL tem agora uma chance única de espantar o mofo incrustado. É ela quem sai levando a melhor ao coroar Conceição Evaristo. (Com informações do El Pais e Ceert).

Academia Brasileira de Letras não merece Conceição Evaristo



(Foto: Divulgação/Flip).


Em julho deste ano, Conceição Evaristo, 71 anos, cruzava de barco a Restinga da Marambaia, debaixo de sol, e se embrenhava na mata para ter um encontro com os quilombolas e caiçaras do isolado Quilombo da Marambaia. Pé na terra, abraçou, comeu, ouviu e falou. Viveu.

Nossa literatura acadêmica é composta, basicamente, por brasileiros que não têm o costume de ir ao encontro do mundo. Nossa arte clássica é, em geral, produzida por artistas que nunca saíram da sombra, que pouco saíram de casa, e que baseiam sua vivência de mundo em uma vivência exclusivamente intelectual e elitizada. Não sujam as mãos, não colocam os pés na terra, não vão ao encontro do outro.

Por isso, a Academia Brasileira de Letras não merece Conceição Evaristo.

A ABL é uma instituição que, afinal, só é notícia quando há a morte de um membro e na eleição do substituto.

Uma espécie de involuntário cemitério de elefantes, onde se migra para esperar a visita definitiva da grande senhora. Mais um retiro do que um lugar vivo, que produz, pulsa, compartilha.

Afirmo na condição de autor de “Fé na Estrada” (Ed. Leya/Casa da Palavra), eleito recentemente por voto popular um dos 25 romances mais importantes do século XXI. Entre autores consagrados, quase todos homens brancos. Afirmo em consonância com meu amigo Luís Fernando Veríssimo que, ano após ano, recusa o convite para de candidatar a uma vaga na Academia.

A ABL não está em movimento.

Já Conceição Evaristo está. E, de certa forma, é.

A autora criou o incrível termo Escrevivência – “um jogo acadêmico com o vocabulário e com as ideias de escrever, viver e se ver.” – segundo a autora.

É essa a principal revolução que Conceição Evaristo levaria, se tivesse sido eleita hoje para uma cadeira da ABL que, blindada, casa fechada, não incorporaria.

Conceição Evaristo seria a primeira mulher negra a integrar a ABL. Não foi. Mas isso diz mais à respeito do Brasil, da Academia, e de nossa Cultura, do que sobre a autora.

O movimento não é uma novidade para o negro. O negro está em constante movimento. E, em um momento no qual acontece no Cine Odeon o Encontro de Cinema Negro Zózimo Bulbul – Brasil, África e Caribe, reunindo centenas de cineastas negros, em que Gilberto Gil palestra sob Inovação e tecnologia, no Teatro Oi Casagrande lotado, as rodas de Slam ocupam praças nas periferias, e uma FLUP (Festa Literária das Periferias) se concentra na região do Cais do Valongo para promover seminários como a “Escrita Preta” e, em parceria com a TV Globo, prepara roteiristas negros de TV, evidencia-se isso.

Hoje, parece que todo o movimento que há na cidade é negro.

E Conceição Evaristo, toda ela movimento e escrevivência, um exemplo já no radar de meninas negras de periferia que desconfiam, com razão, de que sua origem de classe e cor de sua pele as impeçam definitivamente de seguirem a carreira de escritoras.

O movimento de Conceição Evaristo é tão vigoroso que é capaz de colocar em movimento tudo em volta.

Enquanto nossa ABL, distante da vida aqui fora, insiste em ser um jazigo do passado. (Por Dodô Azevedo no G1 e reproduzido no Geledés).

Conceição Evaristo confirma que irá formalizar sua candidatura à Academia Brasileira de Letras


Conceição Evaristo será homenageada no Prêmio Mestre das Periferias e receberá R$ 30 mil.
(Foto: Bárbara Lopes/Agência O Globo).

A escritora Conceição Evaristo confirmou nesta terça-feira que pretende entregar sua carta de candidatura à Academia Brasileira de Letras (ABL) até o fim desta semana. A autora foi anunciada ainda como homenageada do primeiro Prêmio Mestre das Periferias, que acontece em agosto, e vai receber R$ 30 mil.

No último dia 21, Ancelmo Gois já revelava em sua coluna que a escritora pretendia formalizar a candidatura. Uma petição online criada em apoio à eleição da autora para a ABL já ultrapassou as 18 mil assinaturas.

— Essa campanha tem me sustentado e motivado a seguir com a candidatura. Ver essa movimentação me fortalece — disse Conceição.

Para a autora, vencedora do Prêmio Jabuti com o livro "Olhos d'água", postular a cadeira nº 7 da Academia, deixada pelo cineasta Nelson Pereira dos Santos, é mais do que buscar um reconhecimento pela sua obra.

— A ABL congrega e difunde a literatura brasileira, e eu, como escritora negra que representa vários escritores e escritoras negras, acredito que esse é um espaço a ser ocupado. Estamos nos candidatando a um lugar que, como todos os lugares da política e da cultura, são lugares dos negros, que devem estar representados.

Além da coleta de assinaturas, foi criada uma página em apoio à escritora e vão ocorrer "tuitaços" com a hashtag #ConceiçãoEvaristoNaABL nos dias 7 e 20 de junho. A campanha foi criada pelo Observatório de Favelas em parceira com a Redes da Maré e o Instituto Maria e João Aleixo — responsável pelo Prêmio Mestre das Periferias que irá homenagear ainda o ativista indígena Ailton Krenak, o líder quilombola Negro Bispo e, em memória, a vereadora Marielle Franco.

Segundo Piê Garcia, coordenadora de comunicação do Observatório de Favelas, existe uma dívida história em relação aos negros no Brasil, evidentes em espaços como a ABL. Apesar de ter sido criada por um negro, Machado de Assis, a instituição nunca elegeu uma mulher negra como imortal em seus 120 anos de existência.

— Eleger a Conceição, além do reconhecimento de sua obra literária, é uma iniciativa de reparação desse nosso histórico escravocrata numa instituição ocupada massivamente por homens brancos — afirmou Piê — E essa é uma ótima oportunidade de prestigiar alguém com a grandeza que ela tem, além de mostrar o quanto representatividade é algo importante. (Com informações do O Globo).

Escritora Conceição Evaristo vence o Prêmio Bravo



Aconteceu na última terça-feira (27), na Casa de Francisca (Rua Quintino Bocaiúva, 22 – São Paulo / SP), a segunda edição do Prêmio Bravo!. A partir de uma seleção feita por mais de 100 especialistas, foram escolhidos os vencedores em 10 categorias que incluem dança, música, cinema, artes, teatro e literatura.

Em seu discurso, Helena Bagnoli, idealizadora do prêmio junto com Guilherme Werneck, lembrou que pela primeira vez a edição do prêmio não contou com patrocínio. A cerimônia, apresentada pela cantora Karol Conka, premiou a Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), na categoria Melhor Evento de Cultura.

A obra Como se fosse a casa (Relicário), de Ana Martins Marques e Eduardo Jorge, levou o prêmio na categoria Melhor Livro; e o vencedor na categoria Melhor Programação Cultural foi o Serviço Social do Comércio  - Sesc SP. Já a categoria Destaque 2017, única votada pelo público, elegeu a escritora Conceição Evaristo, que em seu discurso frisou o quão significativo é para ela e para todas as mulheres negras, suas premiações estarem ligadas à militância e à arte literária. A premiação completa está disponível no canal da Revista Bravo!. (Com informações da Publishnews).

Conceição Evaristo vence Prêmio Bravo. (Foto: Divulgação).


''A literatura é o lugar para expurgar a dor do racismo'', afirma Conceição Evaristo


Faltava mais de uma hora para começar o evento ''Diálogos Insubmissos de Mulheres Negras'' e uma fila enorme já se formava no Largo do Pelourinho, na capital baiana. Conceição Evaristo sequer havia chegado ao anfiteatro e ainda dava seus primeiros passos nas escadarias do casarão histórico do Teatro Sesc-Senac quando começou a ser ovacionada pelos presentes. ''Não gosto de dar autógrafo correndo. Fico preocupada quando não posso falar com cada pessoa. Minha assessora sempre fala que eu não dou autógrafo: dou consulta'', disse a escritora já no palco, provocando risos no público.

"Cada mulher que se reconhece no meu texto me potencializa e me compromete para uma nova escrita", afirma Conceição Evaristo na Filepô. Foto: Leto Carvalho/ Brasil de Fato.
Do Ceert - Evaristo era uma das participantes mais aguardadas da primeira Festa Literária Internacional do Pelourinho (Flipelô), que vai até este domingo, dia 13 de agosto. A escritora começou sua fala agradecendo aos presentes e ressaltando a importância do movimento negro na construção de sua literatura. ''Não foi o Prêmio Jabuti que me fez. Não foi a FLIP (Feira Literária Internacional de Paraty) que me fez. Foi o movimento negro que me deu carta de passagem. Especialmente as mulheres negras, que levaram meus textos para as escolas e para a academia. Foram as editoras negras que acreditaram no meu trabalho. Hoje agradeço a mídia pela divulgação, mas ela só me descobriu depois que vocês me mostraram'', afirmou a escritora ao público, majoritariamente negro.

Ao lembrar de sua trajetória, Conceição contou dificuldades que enfrentou para escrever livros como ''Insubmissas Lágrimas de Mulheres'', que o evento integrante da programação da Flipelô. ''Estava fazendo o meu doutorado e, pouco antes da defesa, tive uma isquemia cerebral. Escrevi o livro na volta para a academia, nos momentos em que eu queria me desligar da tese. Levei 10 anos para concluir o doutorado. Foi um processo dolorido e um momento de insubmissão muito grande'', contou a escritora sobre a obra publicada pela editora Nyandala em 2011.

Escrevivências e novos imaginários

Crescida em uma favela em Belo Horizonte e sendo a segunda de nove irmãos, Conceição Evaristo disse não ser possível ''colocar vida de um lado e obra de outro'' e comentou alguns de seus desafios para escrever enquanto ''mulher negra na sociedade brasileira''. ''Minha escrita é muito comprometida com as minhas vivências. Nossa história não começa com vitória. Ela sempre começa com luta e resistência. Não tenho elementos para criar uma história que começa com amenidades. No 'Insubmissas Lágrimas de Mulheres' quis trazer histórias de vitórias e mulheres negras como protagonistas. Os contos partem do histórico doloroso dessas mulheres e elas contam suas vitórias nesse processo de resistência. Mas ainda não consegui escrever uma história que não traga o elemento dor'', confessou a ensaísta, hoje com 70 anos e seis obras publicadas.

Para a professora visitante da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), é preciso construir novos imaginários na literatura e ver o silêncio como ''tática de defesa''. ''Tem aquele imaginário da mãe preta grata na fazenda, que falava 'sim sinhô' e fazia tudo pela sinhá. Prefiro pensar essa mãe preta como a mulher que sabia o dia em que o fazendeiro viajaria e levava isso para senzala. Dali se organizavam as fugas para os quilombos e a mãe preta voltava para fazenda como se não tivesse percebido nada. O imaginário da escravidão ainda é de sujeitos passivos e essas narrativas só poderão ser recriadas por nós'', afirmou.

Desafios para o presente

Conceição Evaristo falou da importância da nova geração de escritores negros falarem sobre temas como a diversidade sexual. ''Eles trazem isso sem dificuldades, diferentemente da minha geração. Esse não era um aspecto da vida das mulheres negras sobre que nos debruçávamos.  Esses novos escritores têm essa coragem de se colocar completos nos textos.'' Para ela, é essencial que as novas gerações desenvolvam trabalhos coletivamente. ''Eles também já perceberam a importância de trabalhar em coletivo - seja para recitar ou publicar antologias. Devemos ter esse compromisso de ler os nossos textos, dos mais velhos e dos contemporâneos. A literatura produzida por negros tem tradição e não podemos perder a perspectiva do que ja foi feito'', avalia Evaristo, cujos textos foram publicados em antologias brasileiras e internacionais.

Ela enfatizou a importância de mais valorização das mulheres negras, dentro e fora do mundo acadêmico. "Conheço inúmeros casos de homens negros que foram primeiro para as universidades enquanto as mulheres negras cuidavam dos filhos. Lamento o fato de muitos homens negros não nos valorizarem e não citarem nossos trabalhos. A falta de cumplicidade faz com que eles fiquem sozinhos muitas vezes. Precisamos construir mais redes de enfrentamento'', afirma.

Imagem: Leto Carvalho/ Filepô.

Literatura como resistência

Apesar das dificuldades vividas em sua história, Conceição Evaristo afirmou acreditar na literatura e na academia como ''lugares de resistência'' e diz que seu trabalho faz sentido no encontro com leitores. ''São vocês que dizem que eu sou escritora. E cada mulher que se reconhece no meu texto me potencializa e me compromete para uma nova escrita. Se meu texto literário for capaz de produzir reflexão e fomentar uma ação acho que ele atua como signo de resistência, de esperança e de denúncia. Matamos um personagem para denunciar a impossibilidade de vida'', afirmou a 'escrevivente'.

A escritora concluiu afirmando ter na história das comunidades quilombolas uma inspiração e, na literatura, um resgate. ''Quando os sujeitos escravizados fugiam, eles não tinham nenhuma garantia de liberdade.  O que dava potencialidade para eles era saber que estavam em busca da liberdade. A resistência é nosso estado perene. Eu sei que cansa, mas devemos estar sempre em luta e com esperança. Quem vai chorar esses mortos? Somos nós. Para mim, o lugar de chorar esses mortos, de denunciar e expurgar essa dor é a literatura.''

Flipelô

Em sua primeira edição, a Festa Literária do Pelourinho (Flipelô) ocupa ruas e espaços culturais do centro histórico de Salvador de 09 a 13 de Agosto. Com mais de 50 atrações entre shows musicais, debates, saraus, lançamentos de livros, oficinas literárias e apresentações teatrais, a Flipelô comemora os 30 anos da Fundação Casa de Jorge Amado e homenageia o escritor, a jornalista Myriam Fraga e a escritora Zélia Gattai. A programação completa da Flipelô pode ser acessada no site oficial do evento (http://www.flipelo.com.br).

Escritora Conceição Evaristo recebe Medalha Pedro Ernesto


Aplaudida de pé durante dois minutos, por cerca de 400 pessoas, a atriz Ruth de Souza foi às lágrimas na abertura da sessão que homenageou a escritora Conceição Evaristo, na Câmara Municipal do Rio de Janeiro na noite da última terça-feira, 1/7.

Conceição Evaristo, doutora em Literatura Comparada pela UFF, recebeu a maior honraria da casa legislativa, a Medalha Pedro Ernesto, fruto de requerimento apresentado pela vereadora Marielle Franco (PSOL), aprovado por unanimidade no início de junho.

Do Ceert - Bastante idosa, a primeira atriz negra do teatro, do cinema e da televisão brasileira, dividiu a bancada de homenagens com outras importantes mulheres negras: Flávia Oliveira, jornalista e economista (O Globo), Jurema Werneck, diretora da Anistia Internacional no Brasil, Mãe Meninazinha de Oxum, Iyalorixá, Patrícia Oliveira, membro do Mecanismo de Combate à Tortura do Rio, e a vereadora Marielle Franco (PSOL), que presidiu a sessão. Após a saída de Ruth de Souza, a vereadora de Niterói Talíria Petrone passou a ocupar sua cadeira.

Sob o lema “Eu Mulher Negra Resisto”, Conceição Evaristo foi reverenciada por sua contribuição literata às artes e, sobretudo, por sua trajetória - uma intelectual que nasceu na pobreza e hoje contribui para a autoestima e para que as mulheres negras se apropriem de sua identidade, trajetória e história, tendo os lugares de memória e as experiências de afeto como elementos importantíssimos em suas narrativas.

As quase 400 pessoas presentes à solenidade eram, em maioria absoluta, mulheres negras. Seus múltiplos tons de pele, turbantes coloridos e lindos penteados imprimiram o contraste estético à Casa que, historicamente, é ocupada por homens brancos.  Também foi a primeira vez que a Câmara contou com o serviço de tradução de libras em uma sessão, que foi executado por uma mulher trans negra, Alessandra Makkeda que, com a palavra, ressaltou que estar ali significava seguir o exemplo de Conceição, que é a “escrita de si”.

A sessão foi aberta com a apresentação do teaser do filme em produção “Voz, Cor e Luta”, do coletivo Feminicidade.  Várias mulheres da plateia, representantes de movimentos e coletivos, também foram ao púlpito para prestar homenagens à Conceição, como Clatia Vieira (Fórum de Mulheres Negras), Zica de Oliveira (Criola), Lázia dos Santos (Afoxé Filhos de Gandhi), Cassia Marinho (Iporinchè) e Vilma Piedade (Mulher Preta de Axé e Partida).

À mesa, Jurema Werneck exaltou a potência da mulher negra, responsável pela resistência histórica ao machismo e ao racismo. “Conceição traz a palavra que faz a mulher negra existir na literatura e na vida. Se a dor é real, também é real essa mulher que segue adiante, fazendo existir outras mulheres cercadas pelo silêncio e pela invisibilidade. O racismo diz silêncio, você, Conceição, diz palavra”, concluiu.

Para Mãe Meninazinha de Oxum, não havia palavras que pudessem explicar o quanto é bom ver tanta mulher preta junta: “Nós temos esse  ireito de estar aqui nesse lugar” disse, muito emocionada.

Irmã de vítima da violência do Estado, Patrícia Oliveira lembrou que no sistema prisional, seu lugar de trabalho, a população negra corresponde a mais de 70% dos presos, sendo nos presídios femininos esse número ainda maior. Lembrou, ainda, que são muitos os momentos de luta e violência e poucos os momentos de homenagem e celebrações capazes de juntar tantas mulheres negras. E deu um recado à juventude: “É preciso tomar conhecimento da sua história e aprender a ocupar esses espaços, como faz a Marielle. Somos capazes de sermos juízas, governadoras e escritoras. Podemos chegar aonde quisermos”.

A jornalista e economista Flavia Oliveira também ressaltou a representatividade muito aquém dos matizes e tradições nos espaços como este parlamento, criado por e para a ocupação  de homens brancos. “Eu poderia falar das mulheres negras subrepresentadas no mercado de trabalho, à frente de famílias, na vulnerabilidade, nos subempregos...  isso tudo está nos escritos de Conceição Evaristo. Lá nos reconhecemos.  Mas vou falar sobre algo que aprendi também com ela. Sobre o porquê o povo negro festeja. O toque do tambor nas nossas celebrações nos coloca em contato com o divino. Cantamos e dançamos para ficarmos fortes para suportarmos a barra de existirmos e seguir em frente”, disse muito emocionada.

Flavia pediu licença para falar da campanha “O Brasil é quilombola, nenhum quilombo a menos”, que defende que o Supremo Tribunal Federal (STF) mantenha a titulação de territórios quilombolas no Brasil. A ADI 3.239, apresentada pelo antigo Partido da Frente Liberal (PFL), atual Democratas (DEM) ao Supremo Tribunal Federal, em 2004, pede a paralização dos processos para titulação de terras quilombolas no Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), além de ameaçar os já titulados. O julgamento foi retomado e deverá acontecer em agosto.

A vereadora niteroiense Talíria Petrone também reforçou a campanha pela manutenção dos espaços quilombolas ao homenagear Conceição: “Sua poesia é grito para nós, é identidade e ancestralidade, nos retira da cadeia do embranquecimento e resgata nossa força e resistência. Sejamos quilombo!”, bradou.

O grupo Mulheres de Pedra se apresentou ao final do evento, recitando poesias de Conceição e distribuindo flores às participantes da mesa.

Com a palavra, Conceição Evaristo agradeceu a homenagem e fez uma comparação com o momento em que foi condecorada com o Prêmio Jabuti de Literatura. “Seria uma falsa modéstia dizer que o Jabuti não me envaidece. Claro que sim. Mas o que me deixa tranquila e contempla minha literatura é que ela significa mesmo a voz de todas. E isso que aconteceu aqui. Esse lugar de recepção é que tem levado meus textos adiante. Minha vida não começa no Jabuti. Tenho muita honra de ter passado por editoras que nasceram com a missão de publicar autoras negras. Também quero dizer que minha celebração hoje está, sobretudo, ligada à minha vida no magistério. Vim ao Rio para ser professora. Foi para isso que me preparei. Minas Gerais me deu régua e compasso, alguma experiência em movimento social. Mas foi aqui no Rio que encontrei a inserção no movimento negro e de mulheres. Sou uma carioqueira”, brincou Conceição ao receber a maior condecoração oferecida pela Casa a quem mais se destaca na sociedade brasileira ou internacional.


Autora do requerimento que concedeu a honraria à escritora, a vereadora Marielle Franco lembrou que conheceu a literatura de Conceição Evaristo na juventude, através de uma tia. E revelou que, desde o primeiro dia de seu mandato, tinha como meta promover, em nome do Rio de Janeiro, esta homenagem. “Aqui nesta casa, somos resistência. Saímos fortalecidas deste lindo evento, como flores que rompem o asfalto. Ainda ocuparemos muito esse espaço, que precisa ser enegrecido cada vez mais. E nosso mandato, que é coletivo, está aqui para lembrar disso e resistir”, concluiu encerrando a sessão.

Foto: Reprodução/ CEERT.

Escritora Conceição Evaristo: "Eu não nasci rodeada de livros, nasci rodeada de palavras"


Uma escritora negra de 70 anos, Conceição Evaristo autora de livros de crítica social e com forte apelo à ancestralidade como: "Becos da Memória", "Ponciá Vicêncio" e "Insubmissas Lágrimas de Mulheres". Uma escritora mineira começou a ganhar reconhecimento e teve suas obras divulgadas e reconhecidas depois dos 44 anos.

Do Brasil de Fato - Conceição relembra que cresceu num espaço de "miserabilidade", onde é uma grande coisa. Ela conta com uma infância penosa não é tratada de apologia à pobreza, mas sim relembrar seus seus tantos anos como duros. E acrescenta que semper esteve rodeada do imaginário, do lúdico e do fantástico, da "conceiversidade".

"Era uma carência material muito grande. Mas por outro lado a vivência, uma riqueza cultural que a gente vivia, com contação de histórias, meu tio, muito próximo a mim era da congada, então eu tenho toda uma lembrança da organização, As línguas que fazem como iguarias, fazendo flores para enfeitar a capela. Das conversas que se davam depois das festas, nos encontros familiares, dos visitantes e servidores muito relacionados com a sobrevivência. Ir ao córrego lavar roupa, ir no mato buscar lenha. Esses O que é que é um problema de aprendizagem, mas a pobreza pode ser um lugar de aprendizagem. "Muito que eu aprendi vem da condição social que eu vivi", conta Conceição.

A oralidade e marca presente de Conceição Evaristo. Ela rebate fortemente uma cultura vigente de que é necessário para o texto e o crescimento em um ambiente rodeado por intelectualidade para produzir literatura. "Eu não nasci rodeado de livros, nasci rodeada de palavras e também no sentido de ensaio que é uma cultura da oralidade e parte do nosso patrimônio", lembra.

Por fim, Conceição fala ao Brasil de Fato sobre uma felicidade em cada vez mais mulheres negras escrevendo e literatura se expandindo. "Eu vejo como meninas que estão produzindo agora, elas são mais explícitas com determinadas temáticas que a gente não era, falamos nos nossos desejos, dúvidas, carinhos, hoje eu vejo essa escrita mais nova trazendo esses temas com muita competência, com uma ousadia que Nós não tivemos.”


Em 2015, Conceição foi vencedora do prêmio Jabuti, na categoria contos, com uma obra "Olhos d'água" em 2017 para convidada para a Festa Literária Internacional de Paraty, um Flip. Quem mora em São Paulo pode conferir até o dia 18 de junho uma exposição que revela sua obra e carreira na 34ª edição da Ocupação do Itaú Cultural.

A escritora Conceição Evaristo é autora de livros de crítica social e de apelo à ancestralidade. Foto: Brasil de Fato.

'Perdemos o medo de por o dedo na ferida', diz Conceição Evaristo



Catraca Livre - Aos 70 anos, a escritora mineira denuncia a falta de representação da população negra na literatura brasileira.

O que me leva a escrever? Desde criança, é uma série de indagações que eu faço diante da vida. Essas indagações foram se aprofundando ao longo do tempo.”

Nascida em 1946 em uma favela da zona sul de Belo Horizonte (MG), a poetisa e romancista Conceição Evaristo, 70 anos, foi criada em meio a uma família de mulheres negras que trabalhava como cozinheiras, faxineiras e empregadas domésticas.

Em entrevistas, Evaristo costuma dizer que não cresceu rodeada de livros, mas sim de palavras. “Cresci ouvindo histórias sobre a escravidão. A memória oral foi muito cultivada.” Essas experiências, que depois foram transferidas à sua escrita, é o que batizou de "escrevivência".

Para ela, uma das indagações que mais marcaram sua trajetória foi a posição de subalternidade que sua família tinha diante de outras, geralmente ricas e brancas. “Essas indagações e outras me levaram para a escrita. Eu achava que os livros me trariam respostas”, diz.

Créditos: Marcello Casal Jr. /Agência Brasil.

A escritora Conceição Evaristo

Sua trajetória na condição de mulher negra e de origem pobre se faz presente em todos seus livros, incluindo “Olhos d’água”, vencedor do prêmio Jabuti na categoria Contos e Crônicas em 2015. “Fico feliz pelo prêmio, que eu chamo de ‘prêmio da solidão’. Porque a única cara preta que tinha lá era a minha.”

A mulher negra na literatura brasileira

Na última edição da Flip (Festa Literária Internacional de Paraty), em junho do ano passado, Evaristo foi aplaudida de pé em um encontro paralelo à programação oficial da festa, uma atitude simbólica e potente diante da ausência de autores negros nas mesas centrais deste que é o principal evento do ramo no país. Mais uma vez, foi reacesa a necessária discussão sobre racismo e a falta de representação da população negra na literatura brasileira.

Na ocasião, a escritora protestou: “O que se percebe é que sempre nos é dada uma cidadania lúdica. Dar visibilidade a cantores e atletas negros é estar no lugar comum. Queremos ver pessoas negras colocadas como intelectuais, professores, escritores. Essa cidadania lúdica não nos interessa.

Antes de se firmar como escritora, Evaristo seguiu o caminho das mulheres de sua família que tinham vindo antes dela. Segunda de nove irmãos, ela trabalhou como babá, vendedora de revistas e faxineira até concluir o curso Normal (equivalente ao atual magistério), em 1971, aos 25 anos.

Mudou-se para o Rio de Janeiro, tornando-se mais tarde poetisa, romancista e ensaísta. No final da década de 70, Evaristo cursou Letras na Universidade Federal do Rio de Janeiro, depois ganhou o título de mestre em Literatura Brasileira pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro e doutora em Literatura Comparada pela Universidade Federal Fluminense.

Em 1990, publicou seu primeiro poema no décimo terceiro volume dos Cadernos Negros, periódico do Grupo Quilombhoje, de São Paulo, referência em literatura afro-brasileira. Seu primeiro romance, o Ponciá Vicêncio, foi publicado em 2003, traduzido para o inglês e o francês. A obra atualmente está com tiragem esgotada.

Conceição Evaristo mediando mesa sobre literatura no Festival Latinidades

Foi no Rio, onde mora há mais de 40 anos, que ela considera ter consolidado sua trajetória profissional. "O meu ambiente de escrita é a minha casa. No meio do cotidiano. Por indisciplina, eu não sou aquela pessoa que reserva determinados momentos pra escrever. Alguns escritores vão para a cozinha porque é um hobby. A gente não. A gente cozinha, a gente escreve, a gente cuida da casa, a gente lava o terreiro", conta.

Embora seja reconhecida mundialmente pela excelência de seu trabalho, especialistas denunciam o racismo que impede mais pessoas de conhecerem o trabalho de Evaristo.

"Apesar de ser uma referência para nós, ela ainda é desconhecida dentro da literatura brasileira. O que nos barra é o racismo. Quando pensamos em literatura escrita de mulher negra, a gente tem que combater o machismo e o racismo. É bastante trabalho porque tem que romper com a estrutura”, disse Elizandra Souza, integrante do Sarau das Pretas e editora da publicação Agenda Cultural da Periferia, à Ponte.

Se depender de Conceição Evaristo, esse é um debate que não irá mais cessar. “A questão racial do Brasil não é para o negro resolver: é para o brasileiro. Talvez estejamos perdendo um pouco do nosso cinismo. Perdemos o medo de colocar o dedo na ferida.” E arremata: "A nossa 'escrevivência' não pode ser lida como histórias para 'ninar os da casa grande' e sim para incomodá-los em seus sonos injustos".