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Quando as crenças do alunado são colocadas de lado em favor da cultura que se diz dominante




Solenidades dos concludentes do terceiro ano do município
de Altaneira em 2012, na Igreja Católica. Foto: João Alves.
Na minha residência no quesito religiosidade tem de tudo. Tem católicos praticantes, católicos não praticantes, protestante e ateu. Às vezes, ou quase sempre, fico a me perguntar, fruto dessa convivência familiar e, claro das relações socais extra família, como é possível explicar ou até mesmo iniciar um debate sobre a não existência de um ser com característica divina, como explicar, a priori, a inexistência de deus em uma sociedade como a nossa, influenciada até o último suspiro, até a última gota pelo cristianismo, independentemente dos que acreditam?

Afinal, por mais que não haja provas materiais (e isso é um fato, e reconhecemos isso), atestar a existência de deus (para aqueles que creem) é muito fácil, está no automático, é cultural. Simplesmente há a repetição de frases e conceitos de outrora sem o mínimo de questionamento.  É tão automático que, se você não fizer isso, não se preocupe, pois em algum momento, alguém o fará por você. E, mais, sem o menor pudor, sem o mínimo de respeito pelo que você pensa. Sem a mínima decência de ao menos tocar nos assuntos que foram e são os calcanhares de Aquiles dessas religiosidades - as diversas perseguições, as várias atrocidades cometidas aos que dos conceitos, regras e dogmas destas instituições religiosas não partilhavam. Outros, ainda, carregando a cultura do medo também pregada pelos figurões religiosos, trazendo junto uma fé cheia de medo e culpa, que contribuirá com adultos violentos e intolerantes – diferente daquilo que, certamente, uma pessoa com o mínimo de bom senso esperaria para seus filhos, irmãos, mãe e pais e, claro todo o tecido social.

Ante a esse cenário fico a me perguntar de quem é o papel de educar para a cidadania religiosa? Afinal, esse ato de educar implica necessariamente as ações relativas a todo esse jogo. Ou seja, não é para termos sujeitos que desprezem as religiões, mas para termos um mínimo de bom senso e educar com zelo pela respeito às diferenças, mostrando que há um mundo para além da religiosidade. E isso é dever das instituições de ensino.  Mas estamos muito longe dessa perspectiva de educação, apesar de termos alguns avanços nesse sentido, como a lei 10.639/2013 e 11.645/08, que torna obrigatório o ensino da história e cultura afro-brasileira e indígena nos estabelecimentos de ensino fundamental e de ensino médio, públicos e privados e, apesar de caminharmos também a passos lentos para garantir essa efetivação que foi fruto de lutas, crítica e de muita resistência dos povos negros e indígenas.

Caminhamos a passos lentos e, na grande maioria das vezes, sequer saímos de onde paramos. Por exemplo, vamos abordar um tema que raramente entra em discussão. Muitos, inclusive fogem quando ele é cogitado. Não é novidade para ninguém, embora muitos diretores educacionais tapam os olhos para não ver que, nas instituições de ensino temos estudantes católicos, protestantes, testemunha de Jeová, os praticantes do candomblé, umbanda e até ateus (estes em menor número, inclusive do que os dos dois últimos listados). Toda via, mesmo dentro deste cenário, as formaturas dos alunos do terceiro ano sempre se dá na igreja católica. Essa atitude fere a constituição e desrespeita o estado laico. Muitos alunos que não comungam do catolicismo deixam de participar dessa cerimônia que, sem dúvida é um marco na vida estudantil. Será que se tivéssemos diretores que praticassem o protestantismo e as outras religiões já citadas iriam submeter seus alunos a cerimônias dentro de templos que são símbolos desses grupos? E como ficariam os discentes e seus pais, católicos?

As direções de muitas escolas acabam colocando suas crenças acima dos interesses coletivos e da constituição. Os alunos são respeitados e valorizados para fazer diversos exames, sejam eles internos ou externos. Todos são convocados a participar, independentemente de suas crenças ou de não tê-las. Mas no momento mais emblemático e talvez mais prazeroso e significante de sua vida estudantil - as suas crenças são colocadas de lado a serviço de uma tradição medíocre e de interesses e crenças individuais. As escolas, que é feita por alunos, pais, servidores, professores e coordenação, não pode ficar refém de uma cultura que se diz dominantes e colocar suas crenças como pano de fundo dos eventos.