Três
dias depois de iniciada, a “onda” criada a partir do boato – publicado pela
Folha – de que o ex-presidente Lula estaria fazendo sondagens para uma conversa
entre Dilma e Fernando Henrique Cardoso, produziu-se o que qualquer pessoa de
bom-senso sabia que iria se produzir.
Nada,
a não ser mais uma demonstração de arrogância do decano do tucanato, que
publicou uma nota grosseira dizendo que “o
momento não é de aproximação com o governo” e que “qualquer conversa não pública com o governo pareceria conchavo na
tentativa de salvar o que não deve ser salvo”.
Grosseira
porque se serve de uma especulação para dar foros de verdade ao que ele próprio
não é capaz de afirmar que aconteceu: a sondagem para um contato. E porque
recusar-se a uma conversa com a Presidente
da República significa, na prática, negar-lhe a legitimidade de Chefe de
Estado que as urnas lhe deram.
E
isso não se faz na democracia, embora não se precise ou nem mesmo se deva
concordar com o que diz o governante maior do país.
Fernando
Henrique, ele próprio, no final de 2002, convocou para uma conversa os
principais candidatos à sua sucessão, para anunciar-lhes que iria, de novo, ajoelhar o Brasil diante do
FMI. Todos compareceram, ouviram o então Presidente e suas explicações sobre a
“terceira quebra” do país e, mesmo discordantes, reconheceram seu direito de
agir como lhe parecia adequado, a alguns meses apenas de sua saída do cargo.
Ninguém
lhe disse que não iria a uma “tentativa de salvar o que não deve ser salvo”,
talvez tenha esquecido o desmemoriado da Sorbonne.
Mas
o fato – ou factoide – tem algo mais
preocupante do que o jogo-de-cena tucano.
É
a autoria desta historieta, que tudo está indicando ser de algum dos “geniais”
articuladores políticos de Dilma, que
não entendem que há um processo golpista – e não uma mera crise política – em
curso e que nele os tucanos estão metidos até a alma.
E,
além dela, a atitude de gente que deveria ser politicamente responsável mas que
– perdoem a palavra, mas é um gauchismo do qual o caso não permite fugir – se
comporta como “cabaçudo”, com declarações cobertas de rapapés sobre a
especulação lançada com o único objetivo de deixar Dilma e sua disposição de
conversar com todos – o que nada tem de errado – com uma imagem de pedinte
abandonada e ser “esnobada” pelos tucanos.
Nem
mesmo inteligência tiveram para sair com uma declaração formal, do tipo “a Presidenta dialoga com todas as forças
políticas que desejem m dialogar, mas não recebeu, até o momento, qualquer
manifestação neste sentido do ex-presidente”.
Tudo
indica que a “ideia genial” proveio de gente que faz de tudo para intrigar Lula
com Dilma e que viu na possibilidade de “plantar” esta informação uma forma de
atribuir a Lula a covardia com que
encara os fatos, foge do combate político e a crença, furadérrima, de que o clube
da elite vai ter condescendência com o governo eleito.