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Quem tem medo da História?, pergunta Karnal sobre veto de Bolsonaro a regulamentação da profissão de Historiador


Leandro Karnal. (FOTO/ Reprodução/Facebook).


O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) vetou de forma integral nesta segunda-feira, 27, o projeto de lei aprovado pelo Congresso Nacional que regulamentou a profissão de Historiador.

Análise do filme “O poço”


O filme "O Poço" está disponível na Netflix. (FOTO/ Reprodução).

(El hoyo, direção de Galder Gaztelu-Urrutia)

Resumo sem spoiler: em um mundo distópico, existe uma instituição penal/educativa chamada de O Poço. Em cada nível existem duas pessoas que são alimentadas por uma plataforma/mesa que desce com comida. Os níveis superiores podem comer bem e, à medida que a mesa desce, as celas inferiores recebem pouco ou nada. O filme começa com a personagem Goreng (Iván Massagué) despertando no nível 48 junto a um companheiro de cela chamado Trimagasi (Zorion Eguileor) que explica ao novato como funciona o sistema.

Historiador Leandro Karnal explica por que voto em Bolsonaro é incompatível com a civilização


Karnal explica por que o voto em Bolsonaro é incompatível com a civilização. (Imagem capturada do vídeo abaixo). 

O historiador, escritor e professor da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), Leandro Karnal, explicou por que voto em Bolsonaro é incompatível com a civilização.

Karnal é Doutor em História Social pela Universidade de São Paulo (usp) e especialista em História da América. Foi chefe do Departamento de História da Unicamp. É membro da Associação Nacional de História (anpuh) e da Associação Nacional de Pesquisadores de História Latino-Americana e Caribenha (anphlac). Publicou diversos livros e artigos, sendo um dos pensadores mais conhecidos e influentes do Brasil.

Abaixo o vídeo em que ele explica por que o voto não é compatível com a civilização:

          

Falta divã e sobra sociologia no debate político, diz historiador Leandro Karnal em entrevista


Leandro Karnal avisa que corrupção não é de esquerda nem de direita.  E que há gente demais que fala muito, ouve pouco e acredita que quem  tem opinião diferente da sua é idiota.

O final do ano chegou e, com ele, as temidas reuniões em família – quando a intolerância política vista nas redes se condensa em torno da mesa de jantar. Sobre os ânimos acirrados dos últimos anos, Leandro Karnal, professor, historiador e colunista do Estado, sentencia: “estamos precisando mais de divã do que de análises sociológicas”.


Para Karnal, em pessoas entusiasmadas em torno de boas bandeiras, como ética e redenção da política, esconde-se muito mais Freud do que sociologia. “É muito mais um sentimento pequeno burguês de reformar o mundo para ele ser digno de mim e de rejeição à própria ideia de país que um sentimento político de renovação”, afirmou em entrevista à repórter Julianna Granjeia. A seguir, trechos da conversa.

Estamos vivendo um momento de intolerância política, principalmente nas redes sociais. Como o senhor avalia isso? Por que na internet essa intolerância é tão visível?

A internet tem duas questões importantes: a facilidade da expressão da sua opinião ao custo de um clique. Mas a internet também tem a omissão do sujeito, que facilita muito porque você expressa a sua opinião e não tem um custo a esse respeito. Quem é o João da Silva que escreveu entre 700 mil na minha fanpage? Não sei. Talvez exista, talvez não, mas a internet dilui o eu e ao diluir o sujeito ela tem um poder enorme de deixar diluir todos fantasmas, todos os demônios interiores, todos os medos das pessoas, tudo aquilo que elas desejam e temem pode fluir melhor.

Por isso todos acham que podem opinar sobre tudo?

Sim, faz parte da nossa estrutura democrática desse momento que todos interpretem que a sua opinião é válida. O que está precisando realmente nesse momento é a capacidade de ler, interpretar e o desenvolvimento de uma arte de escutar. Todos querem dizer o que pensam e poucos querem aprender algo novo. Então, eu leio o autor X e eu acho que ele diz exatamente o que eu penso. Eu digo, então, que ele é ótimo. Eu leio o autor Y e ele diz o contrário do que eu penso, então, ele é péssimo, é um babaca, é um idiota. Eu julgo a capacidade argumentativa a partir do meu espelho e da minha identidade. É lógico que isso sempre ocorreu, mas hoje isso está muito a flor da pele. O debate não está inteligente e há poucas pessoas que de fato leem e interpretam. A frase que eu mais detesto nesse momento é o “ele me representa”.

Por quê?

Porque significa “ele é igual a mim”. É sempre um exercício narcísico de projeção de espelho, de especular. Eu acho que nós temos com os políticos essa relação. Os brasileiros odeiam em alguns políticos o que são e amam em alguns juízes e políticos o que gostariam de ser. Por isso que o ódio é tão intenso. Porque são exatamente a cara do Brasil, eles se comportam como todos os brasileiros. E como é tão insuportável essa visão da medusa, eu petrifico e digo que luto por um Brasil melhor, e canto o hino nacional dizendo que é uma luta pela ética, quando é uma recusa do que eu venho fazendo há anos como personagem, como cidadão, mas sem ter tanto poder como o político. Isso não quer dizer que não seja interessante protestar contra a falta de ética, mas quando você vê alguém berrando na TV com passionalidade, pensando com o fígado, como a gente diz, você entende que ali precisaria mais de divã do que de análise sociológica. E a política pública é um espaço que conduz às dores individuais. E as pessoas transferem para o palco tudo aquilo que as incomoda.

Como chegamos a esse estágio tão narcísico e individualista?

Tem coisas que são mundiais, não são brasileiras. Eu acho que tem a ver com o crescimento de uma determinada noção de infância que não pode mais ser contraditada. Tem a ver com o crescimento da noção de criança, a noção de criança que Rousseau, no Emilio, disse que é o pai do adulto, logo não posso contrariar, traumatizar. Tenho que agradar sempre, especialmente jovens de classe média e alta, que passam a infância sendo tratados como pessoas que não podem ter momentos dolorosos. A ideia de que o mundo seja um lugar bom, que ninguém seja punido, é uma grande fantasia que segundo um autor que é muito caro, o (Contardo) Calligaris, que é meu terapeuta, diz em um texto que como nós não temos mais crença na eternidade, nós transferimos para os filhos essa crença. Como eu não vou viver no paraíso, quem vai viver é o meu filho, contrariando a teoria freudiana que cultura é trauma. Quanto mais civilizado maior a negação do prazer e essa pulsão de morte.

O senhor costuma dizer que estamos condenado ao diálogo. Como conseguir dialogar em tempos de intolerância?

A condenação que eu digo é uma metáfora para que seria imperioso que nós ouvíssemos. Porque uma parte da população brasileira está convencida por A mais B e com provas evidentes que houve um golpe conservador que derrubou uma presidente inocente para se colocar no poder uma pessoa que tem um projeto conservador. E outra parte está convencida com evidências que derrubamos uma presidente Dilma corrupta e o PT e colocamos um outro projeto, e assim por diante. Vejam, é impossível viver se nós não fizermos as duas partes conversarem. É impossível, por exemplo, não levar em conta que a corrupção é ambidestra: ela não é de esquerda nem de direita. E isso dá para ser demonstrado com números. Nós temos em São Paulo uma inédita aprovação em primeiro turno de um prefeito ligado mais ao mercado do que à carreira política. Provavelmente no mundo inteiro nós teremos, durante os próximos anos, uma ênfase maior em candidatos conservadores.

Por que o conservadorismo aumentou?

Isso é fruto da crise econômica e também é fruto, no caso específico do Brasil, de um fracasso de manipulação de imagem da esquerda e de uma questão administrativa. Logo, cabe aos conservadores, ou à direita, mostrar se tem mais competência para levar adiante um projeto complexo.

Qual o seu palpite?

Eu acredito, pela tradição histórica, sem fazer profecia, que depois de quatro, cinco, seis ou mais anos, a direita estará com a mesma fama que a esquerda está hoje. Isso porque os problemas que nós temos são maiores que a posição política. Ou do que um mandato. Então veja, mal o prefeito eleito em São Paulo anuncia mudanças na Virada Cultural e já há uma chuva de artigos e de críticas a isso. Se ele cortar a Virada Cultural, haverá quem elogie a contenção de gastos, imperiosa nesse momento; se ele mantiver, haverá quem diga que isso é desperdício. Não há uma maneira de agradar a todo mundo, mas há uma maneira de ouvir mais as pessoas.

]É o que pressupões a democracia…

Sim, quando é eleito um prefeito, quando é eleito um governador ou um presidente, ele pode não ser o meu voto, mas ele é o eleito e isso significa que, a partir de primeiro de janeiro, o meu prefeito é o prefeito Dória. No caso, não posso nem dizer se votei ou não nele porque eu estava fora do Brasil quando ocorreu a eleição, mas ele é o meu prefeito e nós temos que aprender esse jogo democrático. É preciso aceitar que a minha vitória não é permanente, que o meu voto não é sempre o vencedor e que há outras posturas e que na nossa superstição numérica na democracia acreditamos que uma quantidade de votos corresponde à vontade da maioria e que essa vontade é soberana para isso. É um critério pavoroso e não achamos nenhum melhor até hoje. É um critério horroroso, é literalmente uma superstição numérica. O primeiro grande plebiscito da história tinha como um candidato Jesus, o filho de Deus, e o outro Barrabás. E o povo preferiu Barrabás e crucificaram Jesus. Esse foi o primeiro grande plebiscito que as massas se manifestarem livre e democraticamente sobre a política. As massas mantiveram essa tradição, de indicar o pior, mas o que você faria? Deixaria Pilatos decidir? Ou faria uma votação entre os 11 discípulos sobreviventes à Sexta-Feira Santa, já que Judas tinha se enforcado naquela madrugada? Como diz Churchill, o pior dos sistemas: a democracia. A democracia é um horror e não temos nada melhor. É uma coisa interessante isso, é uma escolha de Adão, Eva ou nada.

O STF vem sendo chamado a decidir cada vez mais questões da nossa democracia. O que o senhor acha dessa judicialização?

É um horror. O fato de nós termos no STF debates sobre problemas de trânsito é um absurdo. Isso tem que terminar. A Suprema Corte nos Estados Unidos é uma instituição que decide a interpretação de uma Constituição muito vaga, que é a Constituição de 1787. A nossa Constituição é muito mais precisa que a americana e a Suprema Corte dos Estados Unidos tem menos processos que o nosso STF. Os ministros do Supremo, independente da opinião que eu possa ter sobre eles, estão submetidos a uma pressão enorme, à uma quantidade desumana de processos, e não é possível dar uma opinião válida sobre tantos processos.

O senhor acha que está havendo uma confusão entre os poderes?

Sim, nós precisamos reler Montesquieu. Os poderes estão divididos. O Ministério Público propôs as dez medidas contra a corrupção, e tem plena liberdade legal para fazer o que todo cidadão pode fazer, que é propor leis para o Congresso. Mas quem vota as leis é o Congresso, não o Ministério Público. Não concordei (com esse processo), como eu também não concordei com algumas medidas que foram feitas na calada da noite pelo Congresso, mas isso faz parte da democracia.

O que o senhor acha do descrédito da população com a política?

Me preocupa muito. O Legislativo é sempre a alma e o coração da democracia. Quando as pessoas falam “fecha o Congresso, intervenção militar”, elas estão combatendo o incêndio com querosene. Elas precisam reforçar o Congresso e não podem jogar fora a criança com a água do banho. O fato de haver congressistas podres, corruptos e ineptos – muitos – não invalida nem a ideia do Legislativo, nem da democracia e nem as funções que cada um dos poderes tem. O Executivo está lançando projetos de lei em excesso, a Suprema Corte está decidindo sobre leis que deveriam ser decididas pelo Congresso e o Congresso está não reconhecendo medidas da Suprema Corte. Ou seja, é preciso que todos releiam Montesquieu. Uma das almas da democracia são os três poderes mutuamente dependentes e soberanos. Mutuamente separados e dependentes um do outro.

Como o senhor vê quando a população lança um juiz à presidência ou trata como super herói?

O sebastianismo é uma característica da nossa política, que vem ao lado de um messianismo. É preciso que os militares venham para acabar com tudo que os outros não acabaram, é preciso que a democracia venha, é preciso que Lula volte para colocar o Brasil nos eixos, outros propõe que é Fernando Henrique e, admire você, na minha página, tem campanha Leandro Karnal para presidente. Ou seja, nós estamos em um momento muito escasso de heróis. O que aparecer no mercado e não babar verde está indo. É o sinal mais evidente de que nós estamos descrentes do processo democrático e que queremos xerifes que pareçam éticos para impor a vontade daquilo que eu considero o correto.

Por que isso ocorre?

A nossa corrupção está fazendo as pessoas imaginarem que virá do horizonte alguém que irá nos salvar. E não virá. Não virá. Um juiz Moro, usando como fantasia distópica, assumindo o poder sem o controle de uma máquina partidária, não terá nenhuma base no Congresso. Resultado: ele repetirá um pouco Collor com seu partido surgindo do nada, incapaz de dialogar com o Congresso. As soluções têm que ser coletivas e é preciso se dar conta que não depende de uma pessoa só, mesmo que ela seja honesta e competente. Depende de uma transformação do sistema. Não existe nenhum obstáculo e nenhuma antipatia na candidatura do Moro. A minha antipatia é com o sebastianismo. O que tornou Portugal um país subdesenvolvido durante tanto tempo é a crença de que a força viria de fora, de uma salvação externa, de um Dom Sebastião.

Herdamos o sebastianismo dos nossos colonizadores?


Sim. Herdamos a ideia de que vai chegar um salvador, que ora pode encarnar em Collor, ora pode encarnar em Lula, ora pode encarnar nos militares, ora em um juiz. A minha resistência não é onde encarna, mas se as pessoas de fato se dão conta que nem o homem mais brilhante do Brasil, o mais probo, o mais ético, o menos venal seria capaz de sozinho resolver essa questão. Aí, a democracia tem que corresponder à concepção política atual, porque se não eu estaria impondo a minha vontade pretensamente mais esclarecida, pretensamente mais ilustrada que a dos outros para importar a ideia de um governo de filósofos. Foi tentada por Platão e foi um desastre. Porque ser um administrador não é exatamente alguém que conheça grego, alemão ou Platão. Infelizmente, com muita frequência, as pessoas notadamente honestas são absolutamente incompetentes. E, algumas vezes, o mal, muito mais carismático.

Leandro Karnal. Foto: Iara Morselli/Estadão.

Karnal sobre a reforma do ensino médio: Educação não pode ser projeto para o mês seguinte



a) É preciso repensar profundamente o ensino médio. O modelo está ultrapassado e muito distante dos jovens. A discussão é boa, a forma é equivocada.

b) a mudança deve promover um amplo debate com os interessados JAMAIS por medida provisória. Educação não pode ser projeto para o mês seguinte. Medida provisória não se justifica no caso.

c) Um núcleo comum e depois mais especializado pode ser um projeto interessante. Depois de décadas, estaríamos voltando ao modelo de clássico e científico.

d) Pelo que eu consegui entender da medida, não se propõe a eliminação de humanas, mas a não obrigatoriedade de educação física e artes. São decisões graves que afetam milhões e eliminam um vasto mercado de trabalho. Necessitam discussão sobre sua adequação.

e) A proposta de ampliar a carga para uma escola integral é boa. Dúvida: o governo não consegue amparar o modelo atual, mais barato, e indica um bem mais caro. A dúvida é lícita.


Leandro Karnal: O limite da liberdade de expressão


Conquistamos com dificuldade a liberdade de expressão. Ela é um direito constitucional e um esteio do pacto social. A própria lei já estabelece limites: não posso defender ou incitar crime. Não posso, em nome da liberdade de expressão, defender racismo ou violência contra mulheres ou pedofilia. A liberdade é ampla, mas não absoluta.

Publicado originalmente em sua página no facebook

O professor Jairo José da Silva é titular da Unesp e com consagrada carreira acadêmica. Tudo indica tratar-se de pesquisador sério e reconhecido em muitos bons centros. Isto não impediu de afirmar algo muito difícil no seu facebook. Diante do fato de uma aluna Deborah Fabri, de 19 anos, ter sido atingida no olho por bala de borracha e ter perdido a visão, o docente comentou que era uma notícia potencialmente boa que ela ficasse cega.

Posso discordar da manifestações. Posso, com bons argumentos, ser contra o partido A ou B. Posso condenar quem depreda patrimônio público ou privado. Posso ser do PSOL ou do DEM. A sociedade precisa desta diversidade de posicionamentos. Nunca posso defender violência contra uma pessoa. Nada justifica isto. Este é o limite da liberdade de expressão, pois além deste limite começa o mundo da barbárie. Todos podemos dizer coisas que, refletindo melhor, pensamos ser um equívoco. Cabe, então, veemente pedido de desculpas. Até ele ocorrer, somos co-autores da violência defendida. Violência é o fim do diálogo. Como professor, fico intensamente chocado quando alguém se alegra com uma aluna perdendo a visão. Fico mais chocado com alguém que, tendo os dois olhos, seja tão cego.

Temos um longo caminho pela frente. Aprender a ser crítico sem destruir, aprender a ser policial sem cegar, aprender a discordar sem apoiar violência e, acima de tudo, aprender a dialogar.


Educar não é adestrar, por Leandro Karnal


Sou professor há 34 anos. Muitos pais pedem este conselho: como educar em pleno século 21? A resposta é complexa.

Somos dominados pela cultura da performance. O conteúdo está em alta, especialmente o de imediata aplicação. O vestibular tornou-se um vórtex e o ingresso em centros de excelência virou meta familiar, pois todos ficam envolvidos emocionalmente no esforço dos jovens.

Publicado originalmente em sua página

É fundamental que a criança e o adolescente dominem coisas como linguagem escrita/oral e habilidades matemáticas. Serão úteis por toda vida. Porém, há dois campos que fogem à aplicação imediata. O primeiro é a educação das artes plásticas. Alfabetizamos para a leitura de textos e raramente educamos para a leitura de imagens. Vivemos imersos num mundo visual e não nos adaptamos a isto. O desafio do olhar é intenso e o jovem quase nunca tem habilidade e repertório para julgar este mundo de fotos e desenhos que flui pela rede. Somos, quase todos, analfabetos visuais.

Levar uma criança/adolescente a um museu é algo muito importante. Deve-se preparar a experiência mostrando algumas obras que serão vistas. Devemos dar informações lúdicas e práticas. Deixe seu filho perceber a cor ou a espacialidade. Ele deve ser livre para se expressar e não devemos julgar o parecer de imediato. Importante: fique um tempo reduzido no museu, proporcional à idade. Aumente este intervalo a cada novo passo da maturidade. Podemos evocar o tema do que foi visto em conversas familiares. Indique sites que aprofundem a experiência. Isso tudo faz parte de uma educação visual e artística. O olhar fica mais sensível e amplo. Use todas as oportunidades. Indique como o selfie que ele tanto faz apresenta uma composição espacial. Introduza, aos poucos, a gramática de cada escola artística. Aprendizado implica esforço.
Educar não é adestrar, mas ampliar e estimular o repertório para que cada ser faça parte da aventura humana. A educação pela arte é poderosa e pode mudar, para sempre, a vida de alguém.

O outro ponto é a música. Todos os seres humanos deveriam ser expostos à linguagem musical desde cedo. Crianças amam o ritmo de tambores (para desespero de pais) e podem entrar logo no campo da melodia. Caixinhas de música seduzem bebês. Alfabetizar em música é algo muito bom. Em primeiro lugar, poucas coisas exigem áreas tão variadas do cérebro. Tocar requer habilidade motora das mãos, matemática do compasso, sensibilidade e abstração interpretativa. Descobrir esse universo é algo que ilumina as sinapses e estabelece a comunicação entre os dois lados do cérebro. Acreditem: a música torna as pessoas mais inteligentes! Rousseau, Nietzsche, Adorno e Barthes foram muito interessados em música. Parte de sua agudeza mental derivou disto.

Há uma outra vantagem na educação musical. Ao estudar piano, violão ou outro instrumento, despertamos um verdadeiro método. A criança começa com 15 minutos diários, depois meia hora e vai aumentando. É um sistema crescente de concentração. Surge uma arquitetura gradativa que estimula a paciência. Foco é um diferencial enorme nas relações profissionais e afetivas.

O livro O Grito de Guerra da Mãe Tigre (Amy Chua) narra a experiência de uma sino-americana com suas filhas Uma foi levada ao piano e outra ao violino. Dentro dos princípios defendidos pela mãe, as meninas foram estimuladas a um alto grau de excelência quase obsessivo. Proponho algo diferente, mas Amy Chua tem a vantagem de ter uma estratégia e de se envolver nela.

A música é para criar alma, não para tocar, obrigatoriamente, no Carnegie Hall ou na Sala São Paulo. Preciso estudar música para ser um bom ouvinte. O jovem deve ser incentivado até o ponto em que ele possa se divertir com a música. Todos ganham com esse aprendizado. Possibilitamos, com as artes, que o indivíduo viva sua sensibilidade, crie foco e amplie seu leque de interesses. Pense bem: se você não quiser enfatizar isso porque seu filho não será músico ou pintor, deveria evitar que ele aprenda a ler, porque ele também não será escritor. Interrompa a Educação Física: ele não competirá nas próximas Olimpíadas. Educação é para formar o ser humano completo, não para tornar cada atividade um projeto de carreira. A carreira virá de forma natural, ela é efeito de uma causa anterior, a personalidade.


Livros, tabela periódica, fórmulas físicas, redação, processos históricos: tudo isso pode ser parte de um projeto. Desejei reforçar a arte e a música como linguagens específicas para um diferencial humano. Meu ex-professor, Pe. Milton Valente SJ, afirmava: non scholae, sed vitae discimus (não é para a escola, mas para a vida que aprendemos). Poucas coisas têm tanta vida no mundo como a criatividade artística e musical. Ouse, crie e acredite: seu filho será outro se tiver acesso a estes dois mundos. Focar somente no que vira lucro é bom para o projeto de hamsters amestrados, não para pessoas integrais. Não temos a menor ideia de qual carreira será brilhante em 2046, mas todas necessitarão de criatividade e inteligência. Aproveito e agradeço a todos os meus mestres que apostaram que haveria vida após o vestibular. Bom domingo para vocês!


Leandro Karnal: Por que deixarmos de ser autônomos para servir a modelos impostos?



Com base no livro “Discurso sobre a servidão voluntária”, o professor Leandro Karnal traçou um paralelo entre os ensinamentos de Étienne la Boétie e o período atual.

Hitler não teve acesso à quantidade de informações que hoje qualquer central de telefonia tem hoje. Somos o que Étienne temeu: uma sociedade feliz com tiranos no controle.

Publicado no Portal Raízes

A violência não garante o controle. Segundo a vontade do estado, é preciso que as pessoas concordem e gostem de ser controladas.

O exemplo da servidão voluntária contemporânea é informar ao mundo o que consumimos pelas redes sociais. “Ninguém me obrigou a dar essa informação, mas eu dou”. Francis Bacon dizia que conhecimento é poder.

Ser livre nos torna responsáveis por nossas escolhas. Por isso, casamentos arranjados raramente dão errado: nada espera-se deles.

A liberdade é responsabilidade: quanto mais ofereço chance de as pessoas escolherem, mais angustiadas elas ficam. As escolhas nos tornam sujeitos, mas também objetos. O impulso de ser um sujeito por uma escolha nos tornam também objetos do consumo.

A servidão, por sua vez, pode ser uma zona mais confortável que a liberdade. Boétie falou sobre o incômodo da liberdade séculos antes de Sartre. Os tiranos precisam de assessores. Precisam de um grupo que os apoie. Quanto mais sou oprimido, mais eu tiranizo também. Assim os tiranos se multiplicam. Cada um pisa naqueles que é possível. O mais subserviente dos gerentes é aquele que pisa no faxineiro.

Sejam resolutos em não servir e vocês serão livres. A função do estado é ser tirano. Precisamos pensar na nossa liberdade diante deste estado e parar de seguir gurus de moda, de comportamento, de gastronomia.


Em menos de dois minutos, historiador Leando Karnal desmonta o “escola sem partido”


O professor da Unicamp e comentarista da TV Cultura, Leandro Karnal, expressou com todas as letras o significado do projeto chamado de ‘escola sem partido’, mas que é patrocinado por partidos políticos, principalmente pelo DEM, PSC e pelo PSDB, que abraçou o projeto.

Imagem capturada do vídeo.
Para Karnal, o projeto é a expressão máxima da ignorância humana.

Publicado no Carta Campinas, Roda Viva e Pragmatismo Político

É uma asneira sem tamanho, uma bobagem conservadora, de gente que não é formada na área e que decide ter uma ideia absurda, que é substituir o que eles imaginam que seja uma ideologia por outra ideologia…É uma crença fantasiosa de uma direita delirante e absurdamente estúpida de que a escola forme a cabeça das pessoas e que esses jovens saem líderes sindicais. Os jovens têm sua própria opinião. Os jovens não são massa de manobra…. Toda a opinião é política, inclusive a ‘escola sem partido’…. A demonização da política é a pior herança da ditadura militar, que além de matar seres humanos, ainda provocou na educação um dano que vai se arrastar por mais algumas décadas”.

Em nível nacional, um dos principais expoentes da ‘escola sem partido’ é o deputado Izalci Lucas (PSDB-DF). Ou seja, a estultice começa com um partido propondo um projeto de uma ‘escola sem partido’.

Outro deputado do PSDB, deputado Rogério Marinho (PSDB-RN) é autor do PL 1411/2015, que tipifica e estabelece punições para o crime de “assédio ideológico”. O deputado João Campos de Araújo (PSDB-GO) compara a discussão política na escola ao ‘assédio sexual’.

Conservadorismo, por Leandro Karnal



De vez em quando, alguém entra aqui e grita que sou marxista ou socialista. não haveria problema nenhum em ser socialista ou marxista, mas eu não sou. Sou um pensador que tenta ser crítico e que li Marx com proveito; bem como Adam Smith, Freud, Hobbes, Mill etc etc. São formadores do nosso pensamento. Mas nunca me tornei socialista, ainda que entenda, especialmente entre jovens, a sedução do clamor de justiça que as mazelas do nosso mundo possam inspirar. Mas para quem é conservador (o que também não e um problema), eu recomendaria algumas coisas iniciais para aprofundar sua posição. Primeiro algumas distinções:
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01) ser conservador não é ser reacionário. Conservador desconfia do Estado, crê na livre iniciativa, condena rupturas bruscas e revolucionárias, desconfia da perfectibilidade humana, desconfia de utopias e aposta no indivíduo. Um conservador pode ser um perfeito democrata político e até ser liberal em questões morais. A defesa do individualismo pode fazer o conservador político defender o casamento entre pessoas do mesmo sexo, por exemplo. Isto é comum na Europa.

Para aprofundar , sugeriria duas pequenas leituras introdutórias:

A) Por que virei à direita. na obra, 3 pensadores mostram o motivo da sua adesão ao conservadorismo: Coutinho, POndé e Rosenfeld.

B) as ideias conservadoras explicadas a reacionários e revolucionários. João Pereira Coutinho.




Segunda parte da Cultura do Estupro, por Leandro Karnal


Talvez algumas questões teóricas nos ajudem a clarear temas do post anterior e comentários dos leitores.
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a) Cultura não é algo positivo ou negativo. Alguns disseram que não era uma cultura, mas barbárie. Há cultura da violência, há cultura do racismo, há cultura do estupro. Cultura pode ser definida de muitas formas, mas, neste caso, é um conjunto de ideias e práticas que produzem determinados fatos, explicam estes fatos e justificam estes fatos. Cultura pode ser de morte também. Ao dizer cultura, sociologizamos o problema.

b) Perguntam se todo homem é um estuprador em potencial. Sim, como toda mulher é uma assassina em potencial e todos somos tudo em potencial, para o bem e para o mal. Cabe à educação e à coerção conduzir a maioria absoluta para o universo do respeito e da igualdade e da não-violência. O papa Francisco pode descarregar uma arma na cara de uma jovem se determinadas circunstâncias forem observadas. Provavelmente, nunca o fará. Isto é civilização no seu estado ideal humanista: aquilo que mantém nossos monstros no escuro.

c) Estupro não é fato associado a traficantes. Há médicos bem formados que estupram pacientes no consultório e padres com duas faculdades e formação em ética que estupram meninos. Infelizmente, tal como ocorria com o nazismo, a maldade ou a perversidade não é algo de classe baixa.

d) por fim: quando falamos que um estupro é horroroso, não quer dizer que estamos apoiando o massacre de Darfour só porque não falamos dele. Quando falo do que ocorreu no Rio, não estou apoiando massacre de armênios. Não é possível falar de tudo sempre em todos os parágrafos. Mas, para ajudar, condeno os estupros do Rio, os de Jerusalém no ano 70 dC, os de Berlim em 1945 e os do consultório do dr. Roger Abdelmassih e TODOS os outros tipos de violência que já foram feitos no planeta. Mas não dá para dar a lista telefônica todas as vezes. Vamos a um crime por vez.



“Trecho de “O ódio nosso de cada dia”, de Leandro Karnal



O ódio é uma interrupção do pensamento e uma irracionalidade paralisadora. Como pensar é árduo, odiar é fácil. Se a religião é o ópio do povo para Marx, o ódio é ópio da mente. Ele intoxica e impede todo e qualquer incômodo.

O ódio tem um traço do nosso narciso infantil. O mundo deve concordar conosco. Quando não  concorda, está errado. Somos catequistas porque somos infantis. A democracia é boa sempre que consagra meu candidato e a minha visão do mundo. A democracia é ruim, deformada ou manipulada quando diz o contrário.

Todo instituto de pesquisa é comprado quando revela algo diferente do meu desejo. Não se trata de pensar a realidade, mas adaptá-la ao meu eu. As crianças contemporâneas (especialmente as que têm mais 50 anos como eu) batem o pé e fazem beicinho, mandam mensagem no WhatsApp e argumentam. Mas, como toda criança, não ouvimos ninguém. Ou melhor, ouvimos, desde que o outro concorde comigo; então ele é sábio e equilibrado. Selecionamos os fatos que desejamos não pelo nosso espírito crítico, mas por uma decisão prévia e apriorísticas que tomamos internamente. Grosso modo, isso foi explicado em Uma Teoria da Dissonância Cognitiva, de Leon Festifnger.

Seria bom perceber que ódio fala muito mim e pouco do objeto que odeio. Mas o principal tema do ódio é meu medo da semelhança. Talvez por isso os ódios intestinos sejam mais virulentos do que os externos. Odeio não porque sinta a total diferença do objeto do meu desprezo, mas porque temo ser idêntico. Posso perdoar muita coisa, menos o espelho.

Mas o ódio é feio, um quasímodo moral. A ira continua sendo um pecado capital. Assim, ele deve vir disfarçado da defesa da ética, do amor ao Brasil, da análise econômica moderna. Esses são os polos que banham de luz a fealdade. E, como queria o rebelde 9que odiava o Estado), sempre teremos 999 professores de virtude para cada pessoa virtuosa. Em oposição, encerro acrescentando: sempre teremos 999 pessoas odiando para cada pessoa que pensa. Isso às vezes me dá ódio…”. Leandro Karnal


“Trecho de “O ódio nosso de cada dia” – de Leandro Karnal. Publicado no jornal O Estadão – em novembro de 2014)


Historiador Leandro Karnal sobre o “Escola Livre” – ‘Ainda não superei o impacto’


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Agradeço aos muitos envios do texto da lei aprovada em Alagoas. Li várias vezes. Ainda não superei o impacto. É um monstro jurídico que afronta a Constituição, restaura a mordaça ditatorial e demonstra uma sanha reacionária intensa. Pode dar margem a uma intensa onda conservadora e, como sempre, invocando altos princípios de neutralidade e cuidado com os alunos, cria a figura hedionda da censura a partir de um ponto de vista arcaico de sociedade. Em nome de um bem cínico (se estão preocupados com as crianças por que não fazem escola materialmente dignas?) atacam a essência do conhecimento. O texto é burro, a intenção é estapafúrdia, o resultado será um desastre. Ainda bem que Alagoas não tem nenhum problema grave a resolver no momento e pode se dedicar a isto. Imagine se o Estado tivesse violência ou desigualdade de renda ou microcefalia às dúzias e os deputados estivessem investindo pesado em calar críticos. Seria um horror, não é? Mas, vamos ao lado positivo. Haveria?


- os deputados federais brasileiros, após as declarações estapafúrdias de voto, tinham recebido a taça de ouro da infâmia e da limitação retórica. O Brasil inteiro sentiu vergonha daqueles seres. Em pouco tempo, as excelências de Brasília perderam o posto para os estaduais de Alagoas que estão com a taça platinum mega blaster. Provamos que Tiririca estava errado quando dizia: pior que tá não fica. Ficou. Tem um alçapão no fundo do poço da dignidade parlamentar e Alagoas descobriu antes de todos.

- as forças obscuras estão com medo dos professores. Talvez seja a melhor notícia. Temos um poder que não suspeitávamos. Eles sabem que somos inimigos do mundo reacionário deles, que garante boquinhas e prebendas. Acabamos de ser homenageados de forma indireta. Funciona como a exposição de arte "degenerada" que os nazistas fizeram: figurar nela era um ponto muito positivo. O sol há de voltar, mas ingressamos numa terrível noite escura. Tudo feito em nome de misericórdia e da justiça, aliás, este era o lema da Inquisição...

Por que gosto de História em 1 minuto, por Leandro Karnal


Imagem capturada do vídeo no youtube.

O historiador e professor de História da América na Universidade de Campinas (Unicamp),  Leandro Karnal expõe em um minuto e seis segundo o porquê de gostar da disciplina de História.

Para ele a História “mostra a desnaturalização de todas as coisas que antes nós considerávamos naturais”.  Karnal que é autor da Contexto conta que a História “mostra a liberdade que os homens tem para construir e destruir todas as instituições”. "Eu amo a história porque eu quero ser livre e a história é a base dessa liberdade", pontua ele.

O historiador que é conhecido por suas palestras e crítico das doutrinações religiosas foi também curador de várias exposições, dentre elas  “A Escrita da Memória”, no estado de São Paulo.

Confira o vídeo abaixo


           

Política e a Desigualdade, por Leandro Karnal*


Um dos campos onde a inteligência nacional mais desabou foi o debate político. Em clima de Fla-Flu é difícil formular ideias. Queria fazer uma reflexão básica sem coloração partidária.


Premissa inicial: somos uma sociedade marcada pela desigualdade de renda, de educação e de acesso a serviços como saúde. A desigualdade é um fato objetivo, logo, não cabe discussão. Não interessa aqui se há sociedades mais ou menos desiguais, pensarei apenas a nossa, a sociedade brasileira.

Diante da desigualdade, existem duas (entre centenas) de atitudes básicas. Destacarei apenas estas duas (há mais sim)

01) A desigualdade é provocada pelas diferentes energias aplicadas ao trabalho, pelo empreendedorismo de cada um, pela capacidade de crescer quanto à renda e quanto ao conhecimento. Logo, a desigualdade registra pessoas mais ou menos aptas e é, de certa forma, a recompensa pela inteligência, pelo trabalho, pela estratégia e pelo esforço. A desigualdade será resolvida pela energia das próprias pessoas quando estas pararem de esperar coisas, pararem com sua dependência do Estado e começarem a produzir e trabalhar mais. A ambição individual e o trabalho são a chave. Esta seria, grosso modo, a postura liberal (com muitas variações ) e a defesa Adam Smith do trabalho.

02) A desigualdade é dada estruturalmente pelo capitalismo e suas formas de dominação. Ela não é um acidente e nem pode ser eliminada porque o capitalismo precisa de massas desiguais. Mesmo que alguns cresçam, a grande maioria nunca poderá sair de onde está, porque há demanda de mão de obra barata e de controle político. A saída é quebrar o sistema por uma ação organizada contendo em maior ou menor grau a noção de revolução. Esta seria a postura, em geral, do pensamento de Marx e de muitos grupos marxistas.

A partir destes dois pólos generalizantes (com muitas diferenças, eu sei) as pessoas se posicionam sobre bolsa família, cotas raciais, reforma agrária , incentivos fiscais para áreas pobres etc. A noção básica é: quem é o responsável pela desigualdade e quem pode resolvê-la? Os exemplos históricos e dados levantados pelos debatedores não são a base para sua posição política. São, em geral, a posteriori, ou seja, cada grupo seleciona da história e de outros países o que acha relevante para embasar sua posição. A posição é anterior aos fatos, quase sempre. Voltaremos a este fato.

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