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1° encontro de educadores e educadoras negres é uma das prioridades do MNU-CE

 

(FOTO/ Daniel Galber).

Por Nicolau Neto, editor

O Movimento Negro Unificado do Ceará (MNU-CE) promoveu na manhã deste sábado, 04, a primeira plenária deste ano visando planejar e apresentar as principais demandas. O encontro contou com a participação das coordenações estadual, municipal e filiades de base, além de uma comitiva vinda da cidade de Brejo Santo, no interior do Estado.

A plenária foi aberta com Martir que fez uma com análise de conjuntura em que destacou os desafios que estão postos, principalmente para a população preta. "Os GTs de Mulheres, Juventude, LGBTQI+ apresentaram suas demandas que foram acolhidas por todos”, informa nota divulgadas nas redes sociais do MNU - CE.

Desafios/Demandas

O evento serviu para apontar demandas, elencar prioridades e os principais desafios, como por exemplo, permitir a interiorização do movimento e ampliar a presença nas periferias. Dentre as demandas e ao mesmo tempo desafios, foram citados “constituir uma sede e ampliar as arrecadações; integrar as diversas Frentes Populares; formação política e conversar com a delegada da Decrin”.

O fortalecimento do empreendedorismo negro, a campanha contra o racismo no esporte, participação do 8M, realização do 2° seminário de saúde da população negra, o encontro estadual da juventude e LGBTQI+, além de realizar plenárias mensais e criar os NEABs nas escolas secundaristas e pressionar o governo para efetivar políticas públicas que combatam o genocídio da juventude negra também foram destacadas como demandas.

Outra ação importante frisada foi a realização do 1° encontro de educadores e educadoras negres.

De acordo com informações publicizadas nas redes, muitos outros pontos foram levantados no intuito de fortalecer o movimento no combate ao Racismo Estrutural.

Ainda durante o encontro, novas filiações foram aprovadas.

Padre Júlio Lancellotti é insultado ao postar foto com Menino Jesus negro

 

(FOTO/ Reprodução).

O padre Júlio Lancellotti recebeu diversas críticas, e até mesmo insultos racistas, ao postar uma mensagem de Natal em suas redes sociais, onde aparece segurando uma imagem do menino Jesus negro. A foto foi feta pelo sacerdote, conhecido por suas ações humanistas em São Paulo, e publicada no último sábado (24).

Os internautas criticaram e fizeram comentários preconceituosos, alguns deles dizendo que o religioso estaria “querendo mudar a história” por segurar um menino Jesus preto.

Um deles escreveu: “uai padre tá querendo mudar a história??? Para poder lacrar??? Acho que você precisa de mais um pouco de aula de história e teologismo… Não abdique os ensinamentos para lacrar”.

Outro afirmou: “quando a militância vem antes da religião dá nisso mesmo.”

Tenho dó dessa alma, não pensa que bondade ou vitimismo no céu não entrará ,antes do purgatório”, escreveu outro.

Neste domingo (25) o padre classificou como “racismo estrutural” os comentários dos internautas. O sacerdote respondeu repostando um post sobre o caso publicado no perfil Mídia Ativismo.

Como não há uma descrição física de Jesus Cristo na Bíblia, tampouco há espaço para dúvidas: o Jesus histórico, o homem que foi executado pelo Império Romano no século 1, era um judeu de pele escura, proveniente do Oriente Médio.

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Com informações do Notícia Preta.

Brancos ganham 73% a mais que os negros em 2020, aponta IBGE

Covid-19 vitimou mais pessoas negras – Foto: Thomas de LUZE/Unsplash.

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) publicou um levantamento nesta sexta-feira (3), com base nos dados da Síntese de Indicadores Sociais, revelando que as desigualdades entre pessoas brancas e negras aumentou no primeiro ano de pandemia.

O estudo mostra que o rendimento médio da população negras foi de R$ 1.764, já a renda média das pessoas brancas ficou em R$ 3.056, 73,3% maior, em números absolutos. Os homens tiveram uma renda de R$ 2.608, contra R$ 2.037 das mulheres, representando uma diferença de 28,1%.

Em relação ao mercado de trabalho, 53% da força de trabalho, segundo o IBGE, é formada por pessoas negras, mas os salários são abaixo dos brancos. Além disso, o levantamento mostrou também que 64,5% do total de desempregados são pessoas pretas ou pardas. Os dados do IBGE mostram também que 67,3% dos jovens de 15 a 17 anos, estudantes brancos, tiveram acesso a computador, notebook e internet simultaneamente. Já entre os pretos e pardos, esse número cai para 46,8%.

Pandemia e saúde

O levantamento também mostrou que os negros morreram mais que os brancos durante a pandemia da Covid-19. Segundo dados do Ministério da Saúde, na faixa abaixo de 70 anos, o coronavírus tirou a vida de 57.681 homens pretos ou pardos e matou 56.942 homens brancos. “A variação do número de óbitos está relacionada ao estilo de vida individual e às condições de vida de grupos sociais. Pretos e pardos têm menor acesso a serviços de saúde e, portanto, menores condições de prevenção, diagnóstico e tratamento de doenças”, afirma Leonardo Athias, analista da pesquisa do IBGE.

A Covid-19 atingiu mais a população idosa, mais branca, mas mesmo isso não impediu que morressem mais homens pretos ou pardos, o que evidencia o menor acesso a tratamento”, conclui Athias.

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Com informações do Notícia Preta.

Racismo estrutural: O que significa e como combatê-lo?

 

(FOTO/ Reprodução).

"O grande valor do conceito de racismo estrutural é a compreensão de que o racismo não é um desvio da estrutura, mas sim, a própria estrutura. É a ética pela qual se fundamenta de maneira estruturante as relações desiguais entre pessoas brancas e pessoas negras, ou indígenas". A fala é de Bruna Rocha, doutoranda e mestra em Comunicação e Cultura Contemporâneas, e CEO da plataforma Semiótica Antirracista.

O professor, fisósofo e doutor em Direito Silvio de Almeida, uma das referências sobre o tema no país, define que “todo o racismo é estrutural porque o racismo não é um ato, é um processo em que as condições de organização da sociedade reproduzem a subalternidade de determinados grupos que são identificados racialmente".

Para entender as raízes do racismo estrutural no Brasil e como essa história começou e se perpetua até os dias de hoje, de acordo com Silvio, é necessário revisitar os períodos entre o século 16 ao século 19, em que foi instituída a escravidão, marcada principalmente pela exploração forçada da mão de obra de negros e negras sequestrados do continente africano e feitos de escravos pelos europeus colonizadores no Brasil.

Os mais de 300 anos de escravidão no Brasil, condição que só chegou ao término por conta da resistência dos negros escravizados, somado ao interesse econômico internacional, deixaram marcas profundas de desigualdade em todas as estruturas de poder no país. Segundo o autor do livro "Racismo Estrutural", essa desigualdade orienta e conduz, até os dias de hoje, as relações econômicas, sociais, culturais e institucionais do país.

O racismo estrutural não é só uma questão moral, não é uma questão jurídica, não é uma questão somente econômica”, ressalta Silvio, em conversa com a filósofa Djamila Ribeiro, disponível no YouTube.

No período pós-abolição, em 1888, pessoas negras não tiveram acesso à terra, indenização ou reparo por tanto tempo de trabalho forçado. “Muitos permaneceram nas fazendas em que trabalhavam em serviço pesado e informal. Foi a partir daí que se instalou a exclusão de pessoas negras dentro das instituições, na política, e em todos os espaços de poder”, complementa o jurista.

O racismo estrutural também surge a partir de um pressuposto de superioridade de raças, onde a raça ariana (branca) é colocada em posição de maior importância em relação às outras, lembra “Fato que já foi biologicamente derrubado pela ciência e, ainda assim, persiste o racismo enquanto um processo histórico, que se baseia na opressão, na dominação e no acesso desigual às oportunidades e direitos”, considera Bruna, a mestra em Comunicação e Cultura Contemporâneas.

Racismo estrutural em números

Segundo Bruna, a violência institucional ou do Estado, insegurança, criminalização dos territórios, acesso ao mercado de trabalho e educação, em relações interpessoais, na relação das pessoas negras com a cidade e até mesmo nas ruas fazem parte do racismo estrutural.  A desigualdade racial no Brasil persiste devido a fragilidade de políticas públicas para o seu enfrentamento. É o que diz o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). De acordo com informações do instituto, os negros representam 70% do grupo abaixo da linha da pobreza do Brasil.

Já a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Educação) mostra que 71,7% dos jovens fora da escola são negros, e apenas 27,3% são brancos. O mesmo estudo demonstra a desigualdade de acesso à educação nos índices de analfabetismo: 3,6% das pessoas brancas de 15 anos ou mais eram analfabetas em 2020, enquanto entre as pessoas negras esse percentual chega a 8,9%.

Quanto à violência, a chance de uma pessoa negra ser assassinada no Brasil é 2,6 vezes superior àquela de uma pessoa não negra. A taxa de homicídios por 100 mil habitantes negros no Brasil em 2019 foi de 29,2, enquanto a da soma dos amarelos, brancos e indígenas foi de 11,2, segundo os dados do Atlas da Violência 2021.

Muitas vezes ele [racismo] pode vir apenas no olhar, em outras, em uma abordagem policial violenta. Pode vir num contexto de fome, de pobreza, de viver em um território ou casa que não tenha condições adequadas de sobrevivência, ou não ter acesso a lazer e cultura”, avalia Bruna.

A PNAD Contínua ainda aponta que o percentual de desemprego entre as pessoas pretas em 2020 foi de 17,2%, enquanto a dos pardos foi de 15,8%, ambas acima da média nacional (13,9%). Já a taxa dos brancos de (11,5%), ficou abaixo da média. A taxa de desocupação de 2020 cresceu 1,62 ponto percentual em relação ao ano anterior, mas entre pessoas pretas e pardas a alta foi maior, de 2,6 e 1,75 pontos percentuais, respectivamente.

Como combater o racismo estrutural?

No Brasil, existem leis que protegem a população negra juridicamente. A Constituição possui a Lei 7.716/1989, que torna inafiançável e imprescritível o crime de racismo, e o Art. 140 do Código Penal abrange os delitos de injúria racial. Contudo, de acordo com a doutora em Educação pela Universidade de São Paulo (USP), Adriana Moreira, é necessário pensar em estratégias e instrumentos para combater efetivamente o racismo estrutural na sociedade.

Precisamos entender os motivos dos meninos negros saírem mais cedo da escola do que os garotos brancos, por exemplo, ou porque negros morreram mais na pandemia, ou porque a polícia atinge mais os corpos negros do que os brancos. São questões fundamentais, que quando a gente discute a estruturação dos processos, constrói a racionalização das instituições e das relações institucionais e interpessoais, ajuda a pensar em possibilidades de desfazer os processos”, argumenta Adriana.

A ausência de negros e negras em cargos de lideranças nas maiores empresas do país mostra que o racismo estrutural atua em diversas dimensões e camadas, segundo a doutora Adriana. Ele estrutura a sociedade a partir da desvalorização e restrição de oportunidades de pessoas negros a na ascensão social.

Uma pesquisa do Centro de Liderança Pública (CLP), no entanto, aponta que seis medidas fundamentais podem ser adotadas para minimizar os efeitos do racismo estrutual no pais. O primeiro aspecto é reconhecer que o racismo é um problema estrutural e, diante disso, adotar uma postura institucional antirracista. O estudo mostra que a negação e naturalização do racismo são fatores que contribuem para a sua perpetuação. Dito isso, a luta contra a desigualdade racial não deve ser uma pauta exclusiva de um grupo formado por aqueles diretamente afetados, "mas um compromisso de todo e qualquer cidadão".

A segunda medida eficaz, de acordo com a análise, é garantir representatividade de raças e etnias nos espaços coletivos de decisão, como conselhos e órgãos colegiados, a fim de deixar que as minorias nesses locais falem por seus próprios interesses, sem a necessidade de porta-voz. Além disso, o CLP aponta a promoção de atividades formativas com foco na redução de preconceitos e estereótipos de raça como essencial para fomentar o conhecimento e diminuir a desigualdade.

Outro ponto é incluir a diversidade de raça como um critério para a ocupação de cargos de liderança nas grandes empresas, criar programas de qualificação de preenchimento e coleta de dados sobre a população negra em geral e falar de políticas públicas transversais, a fim de enxergar que a realidade social é diversa e complexa.

Em termos práticos, de acordo com o estudo, uma política de redução de disparidades de renda e redução da pobreza, por exemplo, precisa estar associada a ações afirmativas em educação e de ampliação do acesso à saúde para que seja efetiva. "Logo, é necessário um olhar cuidadoso por parte dos gestores públicos e a atuação integrada de diferentes setores do Governo".

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Com informações do Alma Preta.

Projeto que substitui monumentos de escravocratas vai à segunda votação na Câmara paulistana

(FOTO/ Danilo Verpa/Folhapress)

Com 467 anos, a cidade de São Paulo tem muita história para contar. Porém, por causa da elite e do racismo estrutural, algumas delas foram apagadas, como a do bairro do Bixiga, no centro da capital. Hoje conhecido pela culinária italiana, o local era o Quilombo da Saracura, em alusão ao rio que passa pelo bairro. Assim como o bairro da Barra Funda, na zona oeste, antigamente chamado de Largo da Banana. Atualmente ele é apresentado como bairro de operários europeus, e não pela tradição afro-brasileira.

Foi para promover e contar a história de São Paulo com seus heróis e heroínas que resistiram e lutaram na época da colonização que surgiu o Projeto de Lei (PL) 47/2021: São Paulo é solo preto e indígena. A medida também visa a substituir monumentos e homenagens a escravocratas ainda mantidas na cidade.

Memória

“Há muito tempo o movimento negro brasileiro fala da importância de termos símbolos que têm relação com o nosso povo e de questionarmos os símbolos de violência contra nós, que hoje são completamente naturalizados”, avalia a vereadora Luana Alves, líder da bancada do Psol na  Câmara Municipal.

“É uma forma de violência profunda. E falarmos sobre essas estátuas, homenagens, é não só questionar o que aconteceu, mas colocar um recado muito claro de que no futuro não aceitaremos, que é não é natural esse tipo de processo”, completa.

Antirracismo

Simone Nascimento, integrante do Movimento Unificado Negro (MNU), uma das entidades que assinou uma carta entregue aos demais vereadores para a aprovação do PL, comenta que essa atitude de ressignificar nomes de praças, ruas e mudar os monumentos é uma ação que vem acontecendo em outros países. O projeto também alinha o patrimônio da cidade com debates sobre memória e antirracismo. Assim como exige que as leis 10.639/2003 e 11.645/2008, que tornam obrigatórios o ensino de História Indígena, da África e da cultura afro-brasileira, sejam de fato cumpridas.

“Tem a ver com o lugar de pertencimento e a construção da identidade. Muitas vezes as formações de identidades brasileiras só levam em consideração a questão europeia no processo de colonização e ignoram a contribuição dos povos originários e dos povos africanos que foram escravizados em nosso país. É importante para que descendentes de negros e indígenas possam construir um processo e reconhecimento da sua cultura, mas também para que o Brasil passe a valorizar essa visão de um país que foi construído a partir desses povos também”, observa Simone.

“Não conhecer a sua própria história é estar fadado a um processo de esvaziamento, ignorância e invisibilidade. Esse processo de reconhecimento e estudo faz com que a gente valorize uma cultura”, acrescenta.

Tramitação do PL

O PL já foi aprovado na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) e no Congresso de Comissões da Casa. E agora irá para votação em segundo turno no plenário. O pleito será definitivo para a sua aprovação. A vereadora Luana Alves destaca que toda a viabilidade do projeto já foi reconhecida.

“Antes de apresentarmos essa versão, que é a versão final do projeto, nós já conversamos com o Departamento de Patrimônio Histórico (DPH), já vimos a viabilidade do projeto. Qualquer voto contrário a ele nessa altura é na verdade um voto ideológico, não se trata de viabilidade, porque é viável. Conversamos com o DPH e agora o que está faltando é refazer a conversa com os colegas vereadores para conseguir aprovar em segunda votação”, ressalta a parlamentar.

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Professora Telvira e professor Hilário debateram a Abolição da Escravatura e o Racismo Estrutural no Cariri

 

Por Valéria Rodrigues, Colunista

Na noite da última terça-feira, 18, o Instituto José Marrocos de Pesquisa e Estudos Socioculturais do Cariri (IPESC), órgão da Universidade Regional do Cariri (URCA) e vinculado à Pró-reitoria de Extensão realizou a 13ª edição do Diálogos sobre a História e a Cultura do Cariri.

Livro mostra como pessoas negras foram educadas para a submissão

 

(FOTO/ Getty Images).

O historiador e jornalista afro-americano Carter Godwin Woodson revelou, em 1933, o espectro racista na educação das pessoas negras, preparadas para serem subimissas e sem consciência racial. Teorias que ganharam força e respaldo, inclusive, no Brasil.

A linhagem do racismo estrutural brasileiro, por Nêggo Tom


O Ministro do STF Luiz Roberto Barroso resolveu prestar uma homenagem ao ex-ministro do também STF Joaquim Barbosa, mas como sabemos que para alguns é difícil elogiar um preto sem deixar de frisar que ele é preto, a menção feita, ao invés de honrosa, se tornou horrorosa

Do Ceert - Barroso se referiu a Barbosa como um "negro de primeira linha", assim mesmo, como se estivesse analisando um tecido. Eu acho que se ele tivesse chamado o Joaquim Barbosa de veludo cotelê da suprema corte teria sido mais elogioso.

Falar sobre racismo - assim como sempre foi praticá-lo de forma sutil - não é mais um tabu. A questão precisa cada vez mais ser discutida, e mais do que isso, o pingo precisa ser colocado nos is. Não dá para deixar passar deslizes como o do ministro Barroso. É claro, que o inconsciente coletivo racista precisa ser trabalhado. Diria, até, reeducado, numa espécie de "intensivão"de bons modos. Deslizar no politicamente correto é próprio dos racistas. Se você acha que eu estou dizendo que o ministro Barroso foi racista, acertou. E nem precisa ser um entendedor de primeira linha para o perceber.

Mas o que seria deslizar no politicamente correto? Você que é preto (a), e que agora lê esse texto, já deve ter passado por algumas situações semelhantes a que fora sumetido o nosso "negro de primeira linha", Joaquim Barbosa. Vamos ao dejavu. Alguém certamente já tentou elogiar a beleza da mulher preta com a frase: "Ela é preta, mas é bonita", ou tentou parabenizar o negão pelo seu bom caráter e boa postura, soltando um: "Ele é preto, mas é gente boa" ou "Ele é um preto educado". As frases citadas nada mais são, do que versões pontuais e alternativas ao "preto de alma branca", afinal, o nosso racismo também é cultural.

O racista sempre irá escorregar numa casca de banana e levar um tombo feio, quando tentar enveredar pelo politicamente correto. Ser politicamente correto não é uma simples questão de escolha, ou algo que se assimila lendo um manual. É um estado de espírito. Talvez, por esse motivo, muitos entendem como uma verdadeira chatice, ter que abrir mão dos hábitos e costumes herdados dos colonizadores. Antigamente não tinha nada disso, os pretos nem ligavam e a gente não precisava ficar pisando em ovos para falar com eles. Mas as coisas mudaram e mudarão ainda mais, caras pálidas. Podem crer.

Suponhamos que eu elogiasse a um branco, me referindo a ele como branco de primeira linha. Como você ele sentiria ou reagiria? Se sentiria elogiado e orgulhoso por estar sendo diferenciado dos demais? Afinal, tem branco que é foda, né? Quando não caga na entrada.... Ou ele me faria algum tipo de advertência, sinalizando a possibilidade de eu estar sendo preconceituoso em minha colocação? Eu, como preto, já o fiz e confesso que o meu aparte não foi muito bem recebido. Não me importa! Eu não sou obrigado a ouvir expressões racistas e agradecer o elogio. Você é? Por que? A defesa da sua dignidade não deveria estar em primeiro lugar? Não devemos aceitar com naturalidade, a imposição de estereótipos, ainda que eles pareçam inofensivos, ou até mesmo, elogiosos

Por exemplo, quando um preto não vê maldade e acha legal, personagens como o Zé Pequeno, que foi adotado como uma espécie de herói fora da lei, pelo programa Pânico, reforçando a ideia de que o preto é naturalmente meio marginal, intimidador, violento, boca suja, sem educação e que resolve tudo na porrada, você está permitindo que um juízo de valor e linhagem seja feito com relação a todos os pretos. É claro que existem "Zé Pequenos" brancos, mas sobre esses não pesará o fardo do racismo e do preconceito. Para o ministro Barroso, a etnia de Joaquim Barbosa se torna mais relevante do que a sua própria competência como jurista, porque segundo o nosso racismo institucional, não é comum um preto chegar onde Barbosa chegou.

Fica claro que o pensamento de Barroso e da parte racista da nossa sociedade é o seguinte: O preto pode ser bom, competente e talentoso, mas nunca deverá ser comparado a um branco. O uso da palavra negro, antecedendo ao que deveria ser um elogio, caracteriza distinção. Colocar as coisas em seu devido lugar, ou no lugar que os racistas entendem que elas devem sempre estar. Barroso fez o seu mea culpa, pediu perdão, tentou se justificar, se emocionou, mas não me convenceu o suficiente, para classificá-lo como um ator de primeira linha. Mas sem dúvida, ele é um grande jurista branco.


Fim da linha.

Foto: José Cruz/ Agência Brasil.