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Relações sociais’ no Brasil foram feitas para impedir negros de chegar ao poder, diz Fachin

 

Ministro Luiz Edson Fachin, presidente do TSE. (FOTO |Reprodução|TV Justiça).

O presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Luiz Edson Fachin, afirmou nesta quarta-feira (18) que as “relações sociais” do Brasil foram feitas para que a população negra não chegue ao poder.

Fachin deu a declaração ao participar de uma audiência pública no TSE sobre “Desigualdade Racial e Sistema Eleitoral”.

A PEQUENA AMOSTRA DE MEMÓRIAS INDESEJADAS, MAS PEDAGÓGICAS, É PROVA DA MANEIRA COMO AS RELAÇÕES SOCIAIS DO BRASIL FORAM FORJADAS PARA QUE ALGUNS TIVESSEM ACESSO E OUTROS NÃO, TENDO A RAÇA COMO CRITÉRIO DISTINTIVO, QUE DEFINIU COM ISSO A HIERARQUIZAÇÃO COM OS GRUPOS, SENDO QUE A POPULAÇÃO NEGRA COUBE COMO LHE FOI IMPOSTA, POSIÇÃO DE SUBORDINAÇÃO SUJEITA A BLOQUEIO DE ACESSO A ESPAÇOS DE PODER, COMO POR EXEMPLO, ASSENTOS NO PARLAMENTO, DISSE O PRESIDENTE DO TSE.

Representatividade no Congresso

Ainda durante a audiência, Fachin citou a baixa representatividade de negros no Congresso Nacional.

Segundo o presidente do TSE, embora maioria da população, os negros representam 24% dos deputados federais e 16% dos senadores.

Fachin ressaltou que há no Brasil uma “política racista”, que tenta “aniquilar conquistas legítimas do espaço do poder político até então reservado para determinados grupos sociais”.

SÃO AS CONDIÇÕES QUE PERMITEM ÀS PESSOAS NEGRAS ACESSAR AS OPORTUNIDADES PARA O EXERCÍCIO DO DIREITO POLÍTICO ATIVO, SEJA NA DISPUTA POR UM MANDATO OU NA PRESERVAÇÃO DELE, COMO TEMOS ASSISTIDO EM ALGUNS RINCÕES DO BRASIL A LUTA CONTRA VIOLÊNCIA POLÍTICA RACISTA, AFIRMOU.

De acordo com o presidente da Corte Eleitoral, não basta não discriminar, é preciso “se inquietar com as ausências”.

“Esta ausência se coloca na linha de ser declarada como anormal porque não é passível de aceitar-se as ausências de negros e negras no processo eleitoral e na ocupação de encargos eletivos no Brasil”, disse o ministro.

Audiência pública

A audiência pública sobre desigualdade racial e o sistema eleitoral promovida pelo TSE vai subsidiar um relatório da comissão criada pelo tribunal para a promoção de igualdade racial.

Organizações não-governamentais, órgãos públicos, empresas e pessoas físicas participaram do evento.

Criada em março, a comissão tem o objetivo de avaliar e e propor ações para aperfeiçoar as normas e estimular a igualdade racial nas eleições, além de reduzir o racismo estrutural no processo eleitoral.

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Com informações do Geledés.

Representatividade negra na infância: Beatriz mostrando sua nova bonequinha

 

Representatividade negra na infância: Beatriz mostrando sua nova bonequinha. (FOTO/ Nicolau Neto).

Por Nicolau Neto, editor

O processo de autorreconhecimento, de construção da indenidade deve começar desde muito cedo. É na infância onde as crianças começam as descobertas, a conhecer seu meio e a se reconhecerem com integrantes da sociedade.

Como parte desse processo, as brincadeiras são instrumentos poderosíssimos para a inserção no imaginário delas de temas como identidade e representatividade. Beatriz Rodrigues, minha filha de 3 anos, está dando o recado. "Pretinha igual eu", disse ela ao dialogar com a mãe, Valéria, e este editor.

Abaixo o vídeo disponibilizado no YouTube:

             

Menos de 1/4 dos deputados federais são negros, aponta IBGE


A vereadora Karen Santos (PSOL) assumiu a vaga aberta com a eleição
de Fernanda Melchionna à Câmara dos Deputado.
(

A política é um bom termômetro para mostrar a desigualdade de raça e cor em cargos de chefia e comando no Brasil. O estudo Desigualdades Sociais por Cor ou Raça no Brasil, divulgado nesta quarta-feira pelo IBGE, mostra que somente 24,4% dos deputados federais se autodeclararam pretos ou pardos na últimas eleições, ou seja, 125 dos parlamentares eleitos. Os gaúchos não elegeram nenhum representante negro para a Câmara dos Deputados. 

Representatividade negra na literatura é instrumento de afirmação política


É a partir de escrevivências que Conceição Evaristo demarca o lugar da cultura afro no Brasil, projetando sentimentos do povo com foco no feminismo / Foto: Reprodução - Diário do Nordeste.

Há um termo simultaneamente poético e forte para designar a escrita gestada a partir do cotidiano, das lembranças e da experiência de vida pessoal e de todo um povo: escrevivências. Quem o trouxe à vista foi a escritora mineira Conceição Evaristo - um dos nomes mais importantes e necessários da literatura brasileira contemporânea - exatamente para dar destaque aos sentimentos de toda ordem que atravessam a condição de ser afrodescendente no País que dividimos morada.

Ao singrar pelas páginas a costurar alegrias, emoções, gritos e sussurros de uma camada da sociedade ainda tão fortemente marginalizada, excluída e silenciada, a autora faz da arte um poderoso instrumento de luta contra o racismo e o machismo instalados no alicerce da população.

Um triste panorama a se considerar num território em que negras e negros são a maioria, conforme pesquisa divulgada em novembro do ano passado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Nela, se constatou que o número de brasileiros que se autodeclararam pretos aumentou 14,9% entre os períodos de 2012 e 2016, resultando em uma nação de maior parte afro. Neste Dia da Consciência Negra, conferir relevo a iniciativas que prezam pelo respeito e afirmação da identidade de matriz africana neste solo, se faz, portanto, bastante imperativo.

De Cruz e Sousa (1861-1898) a Joel Rufino dos Santos, passando por Maria Firmina dos Reis (1825-1917) e Elisa Lucinda, a literatura que contempla o segmento é ampla e bebe de diferentes matrizes para alavancar significativas reflexões. Em comum entre elas: um cuidadoso trabalho com as palavras de modo a fazer com que o que foi escrito possa gerar engajamento. Configure-se, enfim, como afirmação política.

Inspirado por essa realidade, o Verso traz um apanhado de algumas das principais vozes no âmbito das letras nacionais e internacionais que fazem valer esse intento e injetam alta voltagem crítica nos textos que assinam. Carolina Maria de Jesus (1914-1977) integra esse time. Moradora da antiga favela do Canindé, em São Paulo, é conhecida pelos relatos em seu diário, reveladores de uma rotina miserável, de total degradação da mulher negra, pobre, mãe, escritora e favelada que era.

Descoberta pelo jornalista Audálio Dantas - que, encarregado de fazer uma matéria na favela onde ela morava, acabou a conhecendo e percebeu o quanto Carolina tinha a dizer - é autora do livro "Quarto de despejo", obra-referência para compreensão do Brasil indigesto em que vivemos, além de várias outras de semelhante amplitude e importância.

Militância

Outras potentes vozes se somam a Carolina Maria de Jesus e a inicialmente citada Conceição Evaristo para bradar força e ativismo afro. Figura que tem ganhado cada vez mais repercussão no País devido à publicação do livro "Quem tem medo do feminismo negro?", Djamila Ribeiro é mestre em Filosofia Política pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e coordena a coleção Feminismos Plurais, da Editora Letramento, pela qual lançou "O que é lugar de fala" (2017).

Feminista, filósofa e acadêmica paulistana, Djamila Ribeiro é referência no estudo sobre o ativismo negro. FOTO: ALEX BATISTA / REVISTA GOL

Na principal obra sob sua assinatura, ela se utiliza de nomes do porte de Sueli Carneiro, Alice Walker, Chaimamanda Ngozi Adichie e Bell Hooks para abordar temáticas como os limites da mobilização nas redes sociais, as políticas de cotas raciais e as origens do feminismo negro no Brasil e nos Estados Unidos. Um recorte bastante amplo do que acomete os tempos atuais, feito destacado pela pesquisadora Simone Ricco em artigo escrito por Vagner Amaro, fundador da Editora Malê - voltada para publicação de autores e autoras negros.

Segundo a estudiosa, "a gente quer falar de literatura brasileira, mas de um recorte dela, o que está sendo produzido na literatura nacional contemporânea e destacando a produção negra. E muitos não sabem o que está acontecendo, não conhecem os autores, não têm ideia de como é o texto e ficam presos, muitas vezes, associando a literatura negra a um texto mais panfletário e muitas vezes não é o que acontece. A militância ocorre de uma forma bem mais literária".

Em voga

Já em outro âmbito, dos escritores estrangeiros outrora ofuscados que ganharam maior destaque no Brasil com a recente publicação de obras, James Baldwin (1924-1987) é um dos que merecem maior atenção. Personagem de renome da literatura americana do século XX, nasceu em Nova York e é autor de uma vasta e relevante obra de ficção e não-ficção.

Entre os assuntos abarcados pelo seu guarda-chuva, estão a luta racial e questões de sexualidade e identidade. "O quarto de Giovanni" e "Terra estranha" são as obras editadas recentemente em solo nacional, pela Companhia das Letras.

Já Toni Morrison nunca perde o pique de ser bem-vinda e comentada ao redor do globo por deixar como legado a vivência das negras norte-americanas ao longo dos séculos XIX e XX. Ela já venceu o Pulitzer e foi a primeira escritora negra a receber o Prêmio Nobel de Literatura, em 1993, atestando o quão longe pode ir um tratamento esmerado sobre o genuinamente ser negro. (Com informações do Diário do Nordeste).

Com 76% de negros, a novela ‘Segundo Sol’ da rede globo retratará uma Bahia Branca


Beto Falcão (Emílio Dantas) e Luiza (Giovanna Antonelli) foram o casal de protagonistas  de 'Segundo Sol'.
(Foto: Divulgação/ Globo/ Reprodução/ Huffpost Brasil).

Nova trama de João Emanuel Carneiro tem recebido críticas após divulgação das primeiras chamadas. Estreia está prevista para o dia 14 de maio.

A próxima novela de João Emanuel Carneiro, Segundo Sol, se passa na Bahia, mas não há atores negros em seu núcleo principal. Pelo contrário, os protagonistas são os atores Emílio Dantas, Vladimir Brichta, Giovanna Antonelli e Adriana Esteves.

Para além dos protagonistas, não há representatividade negra proporcional à quantidade de atores.

Dos 26 nomes que participam do folhetim, apenas três são negros. Desses, somente o ator Fabrício Boliveira aparece nas chamadas divulgadas pela emissora (veja uma delas no player abaixo).

                

Como você leu acima, a nova trama de João Emanuel Carneiro, responsável por sucessos como Avenida Brasil e A Regra do Jogo, se passa na Bahia onde, segundo dados do IBGE divulgados em 2013, 76% dos habitantes se declaram pretos ou pardos.

Nesse mesmo levantamento de 2013, a Bahia foi o estado brasileiro que registrou o maior índice de cidadãos que se declaram pretos: 17, 1%.

No passado, a escalação de elenco majoritariamente branco numa trama ambientada em região de expressiva população negra negra poderia passar despercebida, mas não em tempos de redes sociais.

Nos últimos dias, Segundo Sol virou alvo de críticas de espectadores e ativistas.

No sábado (28), às críticas negativas ganharam ainda mais repercussão após a atriz Samara Felippo compartilhar um texto da dramaturga Maria Shu, que é negra.


Em breves linhas, Maria questiona a inexistência de atores negros não apenas em Segundo Sol como também em outras produções ambientadas em regiões com expressiva população negra.




No Facebook, a página Trick Tudo criou um álbum de fotos intitulado "Eu poderia estar na novela Segundo Sol", que reúne fotos de 53 artistas negros que já trabalharam em novelas da Globo, incluindo Aílton Graça, Sérgio Malheiros, Marcelllo Mello, Telma Souza, Camila Pitanga e Milton Gonçalves.




A publicação soma mais de 19 mil compartilhamentos.

Jornalista que cobre televisão há mais de 25 anos, Cristina Padiglione publicou em seu site neste domingo um artigo intitulado Até quando a TV vai reservar aos negros uma espécie de cota? no qual endossa as críticas que têm circulado nas redes e questiona a prática da emissora carioca.

"Para cada Lázaro Ramos, a TV investe em 30 Rafael Vitti. Assim como um jovem negro inexperiente, os exemplares de brancos revelados a cada temporada de Malhação nem sempre vêm prontos, mas muitos são merecedores de novas oportunidades na TV e de algum investimento da indústria, o que se dá em proporção bem menor nas peles mais escuras. Por quê?"

O HuffPost Brasil entrou em contato com a Globo para saber o posicionamento da emissora diante da enxurrada de críticas relacionadas à escalação do elenco de Segundo Sol.

Em nota enviada pela área Comunicação, a Globo afirma que "não pauta as escalações de suas obras por cor de pele". No texto, a emissora também afirma que está e acompanhando os comentários e que "reflexões sobre diversidade na sociedade" devem ser abordadas na trama.

Leia a nota na íntegra:

"Os critérios de escalação de uma novela são técnicos e artísticos. A Globo não pauta as escalações de suas obras por cor de pele, mas pela adequação ao perfil do personagem, talento e disponibilidade do elenco. E acredita que esta é a forma mais correta de fazer isso. Uma história como a de Segundo Sol, também pelo fato de se passar na Bahia, nos traz muitas oportunidades e, sem dúvida, reflexões sobre diversidade na sociedade, que serão abordadas ao longo da novela, que está estruturada em duas fases. As manifestações críticas que vimos até agora estão baseadas sobretudo na divulgação da primeira fase da novela, que se concentra na trama que vai desencadear as demais. Estamos atentos, ouvindo e acompanhando esses comentários, seguros de que ainda temos muita história pela frente!" (Com informações do HuffPost Brasil).

Por que os negros não apresentam programas de televisão


Em pesquisa organizada pela Vaidapé, levantamos os dados sobre os apresentadores e apresentadoras de televisão no Brasil para quantificar o racismo nas emissoras de TV.

Depois que a Vaidapé decidiu quantificar o número de apresentadores pretos no país, entramos em contato com as principais emissoras de TV da rede aberta: Cultura, SBT, Rede Globo, Rede Record, RedeTV!, Gazeta e Bandeirantes. A dificuldade em conseguir números claros fornecidos pelas empresas fez com que a gente organizasse uma pesquisa para dimensionar como é a divisão racial entre os apresentadores da televisão brasileira.

Por Henrique Santana e Iuri Salles, do Vaidapé - Checamos 204 programas das sete emissoras citadas que foram transmitidos entre o segundo semestre de 2016 e o primeiro de 2017. O resultado foi um levantamento de 272 apresentadores que compõem as grades de programação. Ainda que a maioria dos programas sejam exibidos em rede nacional, para os casos que variam de região para região foi adotado como padrão a programação de São Paulo. Mesmo assim, a pesquisa dá um bom panorama da televisão brasileira.

As primeiras respostas obtidas não surpreendem. Apenas 3,7% dos apresentadores são negros. Em valores absolutos, de todos os analisados, foram apenas 10 apresentadores negros contra 261 brancos. De acordo coma Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), de 2014, organizada pelo IBGE, 53% da população brasileira é de pretos ou pardos, grupos agregados na definição de negros.

Procuramos utilizar como critério de análise a autodeclaração dos apresentadores. Como em muitos casos foi complicado encontrar estas declarações, o critério secundário foi o de observação dos pesquisadores.

Você é muito graciosa. Embora sendo a única negra entre as brancas, é bonita. É bonita de verdade– Silvio Santos, apresentador e proprietário do SBT

A emissora que apresenta maior diversidade é a RedeTV!, onde pouco mais de 9% dos apresentadores são negros. Já a a Record e o SBT são as campeões no quesito branquitude. Ambas não possuem sequer um apresentador negro figurando nos programas analisados. Na emissora de Silvio Santos, a única apresentadora negra que constava na grade de programação era a jornalista Joyce Ribeiro, que foi demitida no início deste ano.

Dois meses antes da demissão de Joyce, Silvio Santos protagonizou um caso de racismo explícito durante o Teleton de 2016. Na ocasião, o apresentador e proprietário da emissora ao entrevistar Daiane, dançarina que se apresentava no programa, afirmou: “Você é muito graciosa. Embora sendo a única negra entre as brancas, é bonita. É bonita de verdade”.

Não foi o primeiro comentário desse tipo proferido pelo dono do SBT. Também em 2016, ele havia dito a uma criança que se apresentava em um de seus programas que seu cabelo estava “chamando muita atenção”.

Além da falta de representatividade na televisão, é possível observar que apresentadores negros estão majoritariamente em programas culturais e de entretenimento. Nos casos analisados, 80% dos negros estavam em programas deste tipo e 20% protagonizavam programas de caráter religioso. Na programação jornalística, educativa e infantil não figurava nenhum apresentador negro.

Também foi possível comparar na pesquisa a média de tempo que brancos e negros ficam no ar. Em uma situação hipotética, se a grade da televisão brasileira fosse composta apenas por programas com apresentação, em 24 horas, apenas 6 minutos da grade seriam apresentados por negros.

O que diz a academia?

Conversamos com um dos poucos professores negros do curso de jornalismo da USP, Dennis Oliveira, doutor em comunicação social e militante do movimento negro, pra saber o que ele achava da presença mínima de negros na programação da televisão. Para ele, “é racismo e discriminação com certeza, porque hoje você tem um grande número de negros que poderia desenvolver essa função”. 

Uma das manifestações da discriminação racial é você interditar a introdução de homens e mulheres negras em posições de visibilidade– Dennis Oliveira, doutor em comunicação social e militante do movimento negro

A escolha de pesquisar apenas os apresentadores foi de esclarecer como se dá a divisão racial no que é, provavelmente, a função de maior protagonismo e visibilidade da televisão. Para Dennis, a discrepância nos números esclarece o preconceito institucional que vigora nas empresas. “Uma das manifestações da discriminação racial é você interditar a introdução de homens e mulheres negras em posições de visibilidade”, pontua.

O professor também reflete sobre como a TV embranquecida afeta um jovem comunicador negro, que não consegue ver quadro de referências no principal canal de comunicação utilizado pelos brasileiros. “Ele não se identifica e cria a falsa ideia de que ele não pode estar lá. Então você limita as expectativas profissionais desse jovem. Mais do que isso, vai se constituindo uma estética ariana”, conclui.

Os dados da pesquisa apontam para um racismo mais escancarado do que “velado”. Mesmo com a esmagadora presença branca, a Rede Globo, por exemplo, não enviou informações sobre seus apresentadores com a justificativa de não separar seus funcionários por raça.

O que dizem os apresentadores negros?

Para ter uma visão de dentro das emissoras, entrevistamos a Roberta Estrela D´Alva, uma das poucas apresentadores negras que está no ar em uma grande emissora. Mestre em comunicação semiótica pela PUC de São Paulo e idealizadora do “ZAP! Zona Autônoma da Palavra”, primeiro campeonato de poesias brasileiro, ela apresenta atualmente o programa “Manos e Minas” na TV Cultura.

Existe preconceito dentro da televisão brasileira? E como combater isso?

A televisão e a mídia não estão separadas de toda uma estrutura cultural dentro da qual a gente vive, que ainda é racista e machista . Então claro que, considerando historicamente a representatividade na televisão brasileira , o espaço para negros e negras é muito reduzido , ainda mais se considerarmos que mais da metade da população desse país é negra.

Ser uma mulher negra dentro da televisão brasileira, ainda mais em um programa onde também estou pautando, era um lugar de fala, um ponto de vista que está muito focado nessas questões de gênero e raça. Todos sabem que minha pauta  central no Manos e Minas desde que entrei é dar visibilidade à mulher negra.

Temos apenas dez negros apresentando programas na TV aberta, você acha que existe alguma justificativa pra isso?

Quatrocentos anos de sistema escravocrata que contaminou todas as estruturas de poder nesse país. A mídia  e a polícia se tornaram mecanismos de controle e existem para servir a um poder hegemônico. E esse poder é invariavelmente masculino, eurocêntrico e branco. Então está explicado.
Você teve alguma apresentadora negra como referência? Lembra do trabalho de alguma?

Acho que a gente tem aquela coisa inconsciente do Fantástico né?  A Glória Maria chamava a atenção por ser a única. Mas se for pra falar de gente preta na televisão, acho que fui mais influenciada pelo Mussum do que por qualquer apresentadora ou apresentador. E olha que os Trapalhões tinham piadas racistas, homofóbicas e machistas pra caramba, hein…

A televisão brasileira é racista? Você se sente representada pela programação da TV aberta?

A televisão é racista na medida em que a sociedade também é.  Eu não tenho televisão há uns 15 anos.  Assisto as coisas pela internet. Até o meu programa. Mas esses dias vi um “blackface” num desses programas de humor. É lamentável… A Angela Davis, quando veio para o Brasil, ficou em choque com as novelas, com o tanto de atrizes brancas de olhos azuis e nenhuma representatividade negra. E é chocante mesmo.

Como foi feita a pesquisa

A pesquisa foi feita a partir dos dados sobre a programação fornecidos pelo site oficial de cada emissora, considerando programas que foram exibidos no segundo semestre de 2016 e no primeiro de 2017. São considerados para essa pesquisa, apenas programas com apresentadores fixos.

Os programas reprisados e de Reality Show organizados por temporada foram considerados na pesquisa, quando não anunciado o cancelamento. Programas voltados exclusivamente para a venda de produtos, bem como eventos esportivos e de celebração religiosa transmitidos ao vivo, ainda que com apresentadores, não foram considerados.

Como citado anteriormente, quando possível, a pesquisa analisou a cor dos apresentadores com base na autodeclaração. Para os casos em que a autodeclaração não foi encontrada, o critério de avaliação se deu pela observação dos pesquisadores.




Conheça Ana Flávia. Primeira negra a vencer concurso da Ford Models


Há seis meses, Ana Flávia, 20 anos, não tinha sequer um par de sapatos de salto, muito menos achava que poderia realizar o sonho de ser modelo. Com 1,79m, a moradora de Mussurunga até pensava em seguir carreira, mas via a realização do desejo como algo distante. “Nunca tive dinheiro pra isso, achava que tinha que pagar pra fazer book”, contou por telefone, de São Paulo.

No último sábado, a baiana realizou um feito e tanto para sua recente carreira: se tornou a  primeira negra  a vencer o Super Model of The World - concurso da Ford Models Brasil criado há 34 anos no país - superando outras 15 concorrentes. “Foi maravilhoso pela representatividade. Estou abrindo portas para outras meninas negras. Recebi muitas mensagens  me dizendo que estava  servindo de inspiração”, revelou.

Como prêmio, Ana Flávia assinará um contrato de quatro anos no valor de R$ 150 mil com uma das principais agências de modelos do mundo. “Quando chamaram meu nome na final, não acreditei. Fui para frente e fiz a única coisa que podia: sorrir. Passei a noite anestesiada. A ficha ainda não caiu”, conta.

Estreia no Afro

Antes de sair vencedora do concurso que revelou nomes como o da conterrânea Adriana Lima, Ana Flávia pisou pela primeira vez numa passarela no Afro Fashion Day (AFD), evento promovido pelo CORREIO para celebrar o Dia da Consciência Negra, em 20 de novembro. “É uma beleza incomum do que a gente está acostumado a ver”, destacou Fagner Bispo, produtor de moda que assinou a edição do desfile. “A Bahia tem muita gente bacana. O AFD coloca um holofote em cima dessas pessoas que, muitas vezes, passam despercebidas”, completou.

Dividindo um apartamento na Avenida Paulista com outras garotas, ela ainda procura entender o que aconteceu. A new face vê a estadia na capital paulista se prolongar por mais uns dias e os planos para a carreira crescerem vertiginosamente. “Ela superou as expectativas e já teve um feed back superpositivo no mercado internacional. Possivelmente, viajará para Europa e Estados Unidos no ano que vem para trabalhar tanto no comercial quanto no fashion”, afirmou Bruno Vicente, scouter da Ford Brasil, que selecionou a baiana na etapa local do concurso. Descoberta

New Face da modelo brasileira: Ana Flávia.
Foto: André Arthur/ Divulgação.
Filha de um pedreiro desempregado e de uma auxiliar de serviços gerais, Ana Flávia nasceu e foi criada em Mussurunga, bairro da periferia de Salvador. Em 2013, concluiu a escola e começou a procurar emprego, mas a falta de experiência atrapalhou. Em maio, enquanto participava de um treinamento para ser vendedora em um shopping, ficou sabendo sobre um concurso de modelos.

A jovem deixou a oportunidade passar, mas Danilo Araújo, que contou a ela sobre a seleção, não. O conhecido mostrou o perfil dela na rede social para o scouter Vinny Vasconcellus, que entrou em contato, mas só teve uma resposta mais de um mês depois. “A foto da internet era antiga, não dava pra ver direito. Quando ela foi até a agência e a vi pessoalmente,  falei: ‘É isso!’. Era uma menina que se achava feia por ser alta e magra, ficava em casa com vergonha. No mesmo dia, fiz foto, apresentei para uma agência em São Paulo e comecei a preparação”, conta Vinny.

A transformação incluiu aulas de passarela e um trabalho estético e psicológico. “Foi todo um processo que apresentou o salto pra ela, uma pedra bruta, sem noção de beleza. Daí a coisa fluiu e ela começou a ter mais autoestima”, destaca.


As grandes referências dela são as cantoras Beyoncé e Rihanna, além da modelo Naomi Campbell. “São negras empoderadas e têm orgulho disso. Ter inspiração é legal, mas quero procurar meu melhor sempre. As pessoas têm mania de perguntar se a modelo quer ser a próxima Gisele, mas ela é única. Quero ser a próxima Ana Flávia”, contou a nova top, orgulho da família. “Desde quando ela era pequena, as pessoas diziam que ia ser modelo. Quando essa história apareceu, eu fiquei meio assim. Mas deixei, fiz a vontade dela”, garante Edinice dos Santos, mãe da baiana.

A cor da opinião: Negros não são nem 10% entre os colunistas dos principais jornais do país



O Brasil é o país com a maior população negra fora da África. Essa diversidade, porém, não é representada em diversos segmentos da nossa sociedade. Nas universidades, os negros continuam lutando para ter acesso à educação através das cotas. O jornalismo da mídia tradicional também não tem se mostrado um lugar amigável para negros.

Publicado originalmente na Revista Fórum

É o que mostra um levantamento feito pelo Gemaa (Grupo de Estudos Multidisciplinares de Ações Afirmativas) da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj). A pesquisa traça o perfil dos colunistas dos três maiores jornais impressos do Brasil: O Globo, Folha de S. Paulo e Estadão.

Nos três jornais existem mais colunistas homens que mulheres, sendo no O Globo, na Folha e e no Estadão as mulheres são, respectivamente, 26%, 27% e 28% dos colunistas. Esse número contrasta com os dados do IBGE de 2015 que mostram que as mulheres são 51,4% da população brasileira.

Mas a situação é pior ainda quando se trata da representatividade da população negra. Segundo o IBGE, 54% dos brasileiros se consideram negros. Nos jornalismo, porém, O Globo é o jornal que mais possui negros como colunistas e eles são apenas 9% do total. A Folha tem 4% de colunistas negros e o Estadão apenas 1%.

Se levarmos em conta a questão de gênero e raça, a situação fica ainda mais grave, já que a Folha de S. Paulo não possui nenhuma mulher negra dando sua opinião para o jornal, que já se declarou abertamente contra as cotas mais de uma vez.

O realizador da pesquisa, João Feres Júnior, coordenador do Gemma, diz que esse perfil de colunistas reduz a perspectiva.

Homens não se atentam para as questões vividas pelas mulheres, assim como pessoas brancas são menos capazes de problematizar o racismo vivido pelos negros diariamente”, explicou o pesquisador.

Uma pesquisa feita em 2013 pela Fenaj (Federação Nacional dos Jornalistas) mostra que apenas 23% dos jornalistas brasileiros se autodeclaram negros e 1% indígenas.

Foto: Divulgação/Jornal O Globo

Minha identidade Negra, por Raissa Couto



Identidade. Dentre tantas palavras que eu poderia escolher pra descrever meu processo de autoaceitação, essa é a que mais me representa. Como toda menina negra a rejeição e o racismo sempre foram presentes na minha vida com início na fase pré-escola, sempre procurei me encaixar.

Mas nunca passei da menina do cabelo duro. Por anos acreditei nisso, nessa inferioridade que é imposta na vida de crianças negras, e fazia de tudo pra “compensar” isso, sendo extremamente legal e disponível pra todos. A maioria das pessoas agem que como se tudo fosse normal, porque é um problema enraizado em nossa sociedade, que destrói a autoestima de qualquer menina. Lembro de entrar em lojas de brinquedos e incansavelmente procurar por bonecas que se parecessem comigo,o que sempre falhava porque até hoje as prateleiras estão lotadas de barbies loiras, de olhos claros seguindo o padrão eurocêntrico. Minha adolescência foi marcada de alisamentos, relaxantes e muito embranquecimento, sempre fui o cupido da história, aquela que arranjava os namoros, nunca a protagonista do romance. Com tempo e minha insatisfação com processos químicos passei a me incomodar com minha imagem no espelho, mas não sabia como mudar essa realidade, me vi perdida e sozinha. Daí começaram as buscas na internet por meninas que também estavam passando por essa transição, demorou um pouco, mas encontrei pessoas maravilhosas que me ajudaram muito nesse processo. Me entender como negra, e como uma mulher bonita foi doloroso, e continua sendo, estar na contramão de tudo que lhe dizem, da mídia e das pessoas que te apontam, é como matar um leão por dia.

Depois de passar pelo bigchop (grande corte pra remover toda parte com química do cabelo) tudo mudou, finalmente me deparei comigo, com minha real imagem, despida de toda máscara, ufa, lágrimas caiam enquanto cortava eu mesma, aquela parte morta que me fez escrava por tanto anos.

Depois desse dia minha vida não tornou um mar de rosas, nem passei a ser vista como a mulher ideal para relacionamentos, empregos, continuo sendo rejeitada e invisível e a mídia me oferece como referência a globeleza, a mulata tipo exportação.

Agora a luta já não é comigo mesma, e sim contra o mundo que não vai deixar de ser racista e machista, mas nem por isso deixarei de resistir e gritar para que todos ouçam minha voz. Meu cabelo segue sendo cultivado todos os dias com muito afeto, cada vez mais armado com certeza, e agora sei quem sou e me orgulho disso, mulher negra do cabelo crespo.